VOCABULÁRIO NÃO SAI COM ÁGUA
‘Quanto mais palavras souberes, melhor expressarás o mundo à tua volta’, já dizia Saramago.
Daí, na mesa de bar, surge um assunto como Marco Feliciano, Joelma da Banda Calypso, avatares da existência como ‘homem é tudo igual’ e ‘lugar de mulher é na cozinha’ e os argumentos são sempre os mesmos: ‘errado’, ‘feio’, ‘faz mal’, ‘burro’...Whiskas Sachê ( = qualquer coisa aí).
E confesso que me frustra um tanto quando ouço um julgamento baseado nos pares ‘feio x bonito’, ‘certo x errado’, ‘bom x ruim’, ‘bem x mal’, ‘burro x inteligente’,quando existem tantas variáveis por entre e além dessas dicotomias e que hoje, mais do que em qualquer outra época da história, nos estão elucidadas.
Entretanto, não é de hoje que a pobreza de vocabulário vigora e é presença nociva em um argumento.
Da parte de quem julga: ortodoxia e falta de flexibilidade de raciocínio são expostas. Para quem é julgado ou apenas ouve o parecer chinfrim, dado os extremos das palavras usadas, reações descompensadas: a vaidade ou a absoluta falta de esperança.
A língua, caros e caras, é de todos nós! Tanto quanto as propriedades humanas que nos fazem ser falhos, mas, ao mesmo tempo, os únicos seres vivos (até agora descobertos) capazes de ter e reinventar esse sistema de códigos tão peculiar. E se ainda não existe a palavra que quero? Pois, cria-se! Se até o paraíso foi passível de abrigar o proibido, pois, até o ser humano é passível de expressar o etéreo.
Através da palavra, o mundo (este mesmo que cá estamos sem saber direito o motivo) se torna mais tangível, mais compreensível aos nossos míseros 10% usáveis de cérebro ( E ainda há quem prefira não usar - nem o cérebro, nem a palavra).
O mal dito habita a escória: a boca dos sem vocabulário. Dos que dividem o mundo entre certo x errado, feio x bonito, homem x mulher.
E já que a ciência ainda não descobriu o que nos faz parar de emitir julgamentos (mesmo sendo quem somos), que, ao menos a Linguagem nos ajude a investir no que pode torná-los mais justos e precisos em cada análise, naquelas palavras certeiras, marcantes e de credibilidade ‘à prova d’água’.
Um brinde ao exercício de escolha das palavras!