Invisíveis - Dezembro

“Canta tua aldeia e cantarás o mundo”

León de Tolstói

Há no mundo uma raça de pessoas destinadas a lutar! Não se cansam, não se abalam e sempre estão prontas para colocar à disposição seu tempo, sua voz e seu insistente desejo de transformar o mundo.

“Eu luto pela causa, não olho para as pessoas, porque as pessoas não são culpadas pela sua falta de consciência.” Assim começou a prosa da Lony Elisa Dei Ricardi, com a Glaci e comigo, tendo o caudaloso Uruguai como pano de fundo. Uma prosa nada leve, diga-se, pois apesar do belo cenário de um dia ensolarado, o assunto é pesado. Ao menos do ponto de vista de quem se sente ameaçado.

Lony nasceu e vive até hoje em Porto Mauá, embora já tenha tido oportunidade de sair de lá. É ela quem diz “Fiquei por opção”. Quando perguntada sobre seu envolvimento no movimento contra as barragens, confessa que até 2008 nunca havia se envolvido em algo parecido e acrescenta, “Nunca fui de me envolver em movimentos, mas essa causa mexeu comigo”.

Quando percebeu que as coisas estavam acontecendo e ninguém tinha informações a respeito, começou a perguntar, a querer saber e notou que não recebia respostas convincentes, as explicações eram desencontradas, pouco consistentes. Então, iniciou um movimento, mal visto na época, porque diziam que era uma “maluca falando sozinha”.

Mas em 2009 outras pessoas já haviam aderido ao movimento e, juntas, desafiaram as convenções e ousaram elaborar um folder para distribuir durante a Festa dos Navegantes. Mais ainda, fizeram faixas e passaram a noite colocando-as pelo caminho em que passaria a procissão. Porém, as mesmas foram retiradas, só ficaram as que estavam em terrenos particulares.

A partir dessa ousadia, foi procurada pelas Pastorais e não parou mais de conversar com as pessoas, buscar informações e ser convidada para falar sobre o assunto. Hoje, é chamada para palestrar e dar esclarecimentos, participa do programa de rádio “A voz dos atingidos”(Domingos ao meio-dia), é ouvida.E o que antes era ironia se transformou em respeito.

Lembra que quando foi procurada pelo MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), ficou um pouco assustada, mas encarou o desafio e foi agregando pessoas de outros municípios atingidos e participando de protestos e marchas. Recorda, inclusive, que em um dos atos de protestos das Jornadas de Junho, realizado em Santa Rosa, o grupo foi convidado a se retirar sob a alegação de que esse tipo de manifestação não estava na pauta e que deveriam fazê-la em seus municípios. É claro que não se retiraram, afinal, a mesma Jornada fazia o chamamento “Vem pra rua!”.

Na última feira realizada em Porto Mauá, bancou, com recursos próprios, um estande para poder realizar um trabalho de conscientização. Nessa ocasião, contou com o apoio de articuladores argentinos que também são contrários às barragens, em especial do professor Raul Aramendy, o qual a define como uma guerreira.

Já dizia Bob Marley, “A vida é para quem topa qualquer parada. Não para quem para em qualquer topada”. Lony escolheu não parar. Na maioria das vezes isso é tremendamente dolorido e requer grande coragem. E não é para todo mundo, é para quem tem brilho nos olhos e ainda acredita na utopia.