MUDANDO DE FOCO

 
A coisa mais fina do mundo é o sentimento
(Adélia Prado)

 

Conheceram-se por acaso e se apaixonaram. Chegaram na vida do outro em um momento permeado por carências que foram supridas com carinho, atenção, desejos, intensidade e afinidades. Eram dias inteiros compartilhando momentos de encanto e deleite.
Sonhos, planos, projetos; um momento vivido aspirando ao futuro.
Em certa manhã, após mais uma noite perfeita, ele desapareceu. Sem uma palavra, sem acenos, sem nada. Tempos depois ela concluiu que ele certamente havia mudado de foco.
 
Dois anos depois, ela estava distraída e foi surpreendida por outro encontro. Dessa vez, especial, muito especial. Ele era diferente de tudo aquilo que ela havia sonhado e imaginado. Ela tinha a sensação de que havia esperado por ele a vida toda. Agora, era o amor que chegara. Por ele, ela havia aprendido a semear estrelas. Eram dias e dias de sonhos, desejos, saudades e urgências. A vida se tornara uma poesia.  Falavam em construir um ninho, um lar. Ele comprara um anel lindo; para ela, mais que um símbolo de amor, representava um enlace de promessas de felicidade.
Então, em um dia sem sol, ele simplesmente mandou que ela fosse viver a vida sem ele. Disse com todas as letras:cansei, mudei de foco.
 
A partir de então, ela passava horas a fio em frente ao espelho tentando descobrir qual era o problema com seu foco. Ali, diante de si, tudo que vislumbrava era a imagem de uma estranha desfocada.
Foram dias, semanas, meses alheia a tudo e a todos.
Algum tempo depois seu amor jazia juntos com seus restos sob uma lápide que dizia:


 
Epitáfio

Quando perceber que é inútil,
não insista.
Faça como eu...
Não morri,
mudei de foco.
 
 
 

 
 
 
BETH LUCCHESI
Enviado por BETH LUCCHESI em 01/12/2013
Reeditado em 09/12/2013
Código do texto: T4594555
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