Um pouco sobre Educação

Um pouco sobre Educação

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Bem todos aqui presentes sabem que não sou lá muito bom para fazer piadas, até porque gosto de um tipo de piadas que a maioria das pessoas não entende e assim elas acabam não achando nada engraçadas as minhas piadas. Entretanto, dessa vez, fiquei um pouco mais animado porque me pediram para vir até aqui neste evento para falar um pouco sobre Educação e ainda que eu também não entenda quase nada desse assunto, apesar dos mais de 37 anos de exercício do magistério, gostei da ideia de discorrer sobre o tema, porque esse é um assunto interessante e extremamente engraçado, pelo menos aqui no Brasil.

Nessa área já aconteceu de tudo, desde a existência de Presidente Semianalfabeto, com título de Doutor Honoris Causa, passando por um Ministro da Educação que comprou Diploma de Mestrado para tentar enganar o Congresso e a População Brasileira, até chegar a uma ex-terrorista de origem Búlgara, que por não conhecer nada da língua portuguesa vive insistindo em ser chamada de Presidenta da República. Em suma, Educação no Brasil é realmente algo que começa a inexistir, desde os altos poderes e faz a gente rir muito, por conta da picaretagem dos personagens poderosos.

Bem, mas, e nós aqui o que temos com isso?

Com tantas situações inusitadas na administração pública do país no que se refere a Educação dos nossos administradores, nós não poderíamos esperar assunto mais interessante para ser comentado e nesse sentido, penso que também posso dar os meus palpites, até porque eu talvez seja o sujeito mais burro que conheço. Digo isso, porque quase todas as pessoas que conheci entraram e saíram da escola, mas eu sou tão burro que que só entrei e até hoje, aos 57 anos de idade, ainda não consegui sair. E pelo jeito, só vou mesmo conseguir sair da Escola, quando estiver indo direto para o Cemitério. O pior é que de lá, do Cemitério, certamente eu não vou sair mesmo. Quer dizer, chegarei ao Cemitério com vasta experiência em Educação, mas que não terá me servido para nada, porque enfim a única coisa que, talvez terei conseguido, seja morrer educadamente.

Tem um ditado que diz: “educar é preparar para vida”, mas no meu caso específico “educar só parece ter me preparado para levar à morte”, haja vista que vou morrer na Educação. A única vantagem disso é talvez eu venha a ser um morto bem educado e depois de morto, efetivamente não falarei mais mal de ninguém.

Bem, mas vamos deixar a minha morte de lado e voltar ao assunto, a EDUCAÇÃO.

O termo EDUCAR vem do latim e no passado queria dizer “conduzir para fora”, no sentido de mostrar o mundo exterior ao educando ou aluno. Hoje o termo está mais para conduzir mesmo o aluno para fora da escola, haja vista o alto grau de evasão escolar, em consequência das diversas desistências e abandonos. Por outro lado, já que vivemos na era das máquinas e do lazer, alguns alunos preferem entender que EDUCAR é o nome de uma loja de carros cujo proprietário tem o nome de Eduardo e daí a loja ser conhecida como “EDU-CAR”. Outros alunos ainda vão mais além, porque como o Eduardo, o dono da loja, vive fazendo caça submarina de pequenos tubarões, dizem que ele pratica “EDU-CAÇÃO”.

Uma das dimensões da Educação é o ENSINO, palavra que na verdade é uma sigla que significa: “Eu Não Sei Isso, Nem Ouso”. O Ensino é consequência de ENSINAR, ou seja “Em si, no ar”, já que o aluno vai à escola para ser ensinado e continua sem saber absolutamente nada, ou seja, ele continua “no ar”.

Para ensinar existe a lendária figura do Professor, aquele que leva o conhecimento e a clareza. Aliás, a ideia contida na palavra PROFESSOR, tem variado muito ao longo do tempo e lamentavelmente tem diminuído bastante de crédito e de tamanho. No tamanho vejam o que aconteceu: o Professor foi “Catedrático”, foi “Professor”, foi “Mestre”, foi “Fessor”, foi “Prof”, foi “Prô”, foi “Sôr”, foi “Sô” e agora é apenas “P”. Como eu disse está diminuindo, porém chato mesmo acabou ficando para as filhos das Professoras que agora são conhecidas como “filhos da P”, o que há de se convir, não soa lá muito bem.

Quanto ao crédito, o Professor, que sempre teve salário baixo, mas sempre teve crédito, agora nem salário o infeliz tem mais. O Holerite do professor possui vários apelidos interessantes. Por exemplo: “Ejaculação Precoce”, porque acaba rapidinho para os homens e “Menstruação” porque nunca dura mais que três dias para as mulheres. Na verdade o Holerite acaba sendo a “declaração de pobreza” do professor. O crédito do professor, mudou de coluna e se transformou em débito. Desacreditado, debilitado e descreditado, o único banco onde você ainda é capaz de encontrar o Professor é sentado no “banco da praça”, mas mesmo assim isso é muito raro, porque já existem praças em que não estão deixando qualquer um sentar nos bancos. Tem mendigo mais feliz do que Professor, porque os mendigos ainda podem, pelo menos, sentar e dormir nos bancos das praças.

O Professor ensina ao aluno, aquele sujeito que deveria ir à escola para aprender, o apedeuta à busca de clareza e conhecimento. Pois então, o aluno é o outro lado do processo educacional. Primitivamente o termo ALUNO fazia referência àquele indivíduo jovem e ainda “sem luz”, que iria até a escola para receber a clareza e a orientação daquele que lhe professaria palavras que lhe forneceria essa luz, o Mestre. Bonito isso, não é? Mas, entender esse negócio era tão complicado, que parece que faltou energia, a luz sumiu e não se faz clareza nenhuma.

Hoje, o aluno é o sujeito que vai à escola somente para fazer algazarra e bagunça, inclusive apagando mesmo a luz, causando “blackouts” em grupos afinadíssimos em uníssono. Assim o termo ALUNO pode ser entendido hoje como “ALL-UNO”, do tipo: “um por todos e todos por um”, como no velho slogan dos Três Mosqueteiros. O Mestre, por sua vez, é aquele sujeito que atribui nota a algazarra do aluno e a escuridão da escola. Como a nota é dada a cada dois meses, ela é conhecida como NOTA BIMESTRAL, ou seja a nota dada pelo Mestre a cada dois meses.

Outro aspecto muito interessante na Educação é o famoso Livro Didático. O Livro Didático é aquele objeto que deveria ter a função de fazer o aluno estudar. Entretanto, o tiro saiu pela culatra e esse tipo de Livro desobrigou o aluno de escrever, pois com esse material o aluno só precisaria passar a ler. Por outro lado, como o livro é ilustrado, cheio de figuras, (mesmo não sendo lá uma figura muito ilustre), o aluno que já não escrevia, passou também a não ler, porque agora ele pode simplesmente apenas passar a ver figuras. Um certo aluno me confidenciou o seguinte: “Genial esse tal de Livro Didático, tem uma imagens interessantes. Caramba! porque vocês demoraram tanto para inventar esse negócio?”.

Mas o Livro Didático não é tão maravilha assim, folhear páginas vendo figuras, para lá e para cá, criou um problema sério em alguns alunos que desenvolveram LER. Não, não, por favor não confundam. Eles não passaram a desenvolver a Leitura, eles apenas adquiriram LESÃO DE ESFORÇO REPETITIVO – LER, nos dedos das mãos. Entretanto, muitos têm achado excelente, porque agora, por ordens médicas, eles são obrigados a ficar cada vez mais longe dos livros e não têm que ler absolutamente mais nada. O Livro Didático também é conhecido como Livro de Texto e sobre esse aspecto ele apresenta outra peculiaridade interessante, porque como diz o nome Livro de Texto, o aluno aproveita e também diz eu “detesto” esse tipo de livro, aliás, assim como “detesto” qualquer outro livro ou coisa que eu tenha que ler.

Outra dimensão importantíssima da Educação é a avaliação, mas atualmente ela está mais para “avariação”, pois o que se avalia na escola hoje é a incapacidade de educar, a qual é cada vez maior. Não se mede aquilo que é melhor, mas sim o que é menos pior. O nível educacional já virou subnível e falta pouco para sair do prumo e entrar totalmente em desnível. Quer dizer, está mesmo uma “avariação”. Nosso recorde mais honroso na educação é estar sempre entre os piores, ajudando a segurar a lanterna, em todas as avaliações internacionais e dizem que estamos melhorando muito. Basta ver os resultados dos PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes – sigla em inglês) para ver as sucessivas PISADAS que temos tomado por ficar sempre embaixo dos outros. Caramba! No que tange à Educação, nós somos sensacionais. Nós somos mesmo danados ou será que deveria dizer danosos (avariados)?

A Escola que já foi uma importante instituição social, onde os atores (Professores e Alunos) trabalhavam pela Educação, agora é um ponto de encontro onde professores e alunos se encontram, algumas vezes por semana, para discutir futilidades e ampliar o relacionamento social e o grau de conhecimento sobre a DIVA (Departamento de Informações da Vida Alheia) e outras coisas desimportantes. Na verdade, em geral, a escola virou um enorme teatrão onde os professores são artistas a fingir que ensinam e os alunos são artistas a fingir que aprendem. Ainda que seja triste afirmar: “a Educação é a maior piada desse país”.

No passado a escola era conhecida como COLÉGIO, que primitivamente trazia a idéia de reunir, talvez reunir para colar (Cola – légio: “a Cola diabóloca ou o Centro da Cola”). No Colégio os alunos colavam e assim tinham aprovação. Hoje a coisa mudou, agora os alunos não precisam mais colar, porque serão aprovados de qualquer maneira, haja vista que a aprovação é automática e por isso o nome mudou e agora o antigo Colégio denomina-se ESCOLA (Ex – Cola) e assim, por convencimento, estamos extinguindo também a cola nas ex-colas.

Antigamente, qualquer aluno, bom ou mal, tinha pelo menos que ler, porque quando o Professor lhe perguntava: menino você leu o a assunto? Ele respondia: “LI-CEU fulano”. Mas, hoje isso mudou e mudou muito, pois os alunos e talvez muitos dos professores nem saibam o que é o Liceu de Aristóteles. Aliás, na Grécia Antiga também tinha a Academia de Platão, mas hoje os alunos só pensam na Academia de Ginástica e na musculação e pensam que ele é derivada do ideia de um filósofo grego que ficou muito forte fisicamente, porque comia muito e por isso mesmo ficou conhecido como “platão”. Nas Academias de hoje, o “platão” foi substituído pelos suplementos alimentares, isto é, as bombas que os alunos ingerem inadvertida e descontroladamente, para ganhar massa física. Pois é, antigamente a Academia era na Grécia, mas hoje, embora a Academia possa ser em qualquer lugar, ela continua sendo um programa de grego.

Hoje com a INTERNET, se o professor perguntar se o aluno leu alguma coisa ele responderá mais ou menos assim: “então mano prof, sabe como é, né? As mina pira e aí não dá para ficar, tipo, lendo... é melhor fazer um “curso”, quer dizer, é só pegar o “mouse”, tá sabendo, o “mouse”, e clicar com o cursor e fazer um curso no dicionário do Google. Pô, cara, é muito “manero”, já tá tudo lá. Então, porque eu vou ler, quando precisar eu pego e aí, sabe como é, né? As mina pira e é nós na fita. Em suma, o Computador é a Igreja, a Internet é Jesus Cristo, o Google é o próprio Deus, enquanto a escola, o professor, a leitura, o idioma e o país, que se .... Bem, deixa para lá.

Essa mania de eletrônicos também criou outra situação bastante interessante nas Escolas, que estão cada vez mais parecidas a grandes centros aeroespaciais. Digo isso, porque os alunos de hoje, mais parecem astronautas do que estudantes, pois eles não só estão ligados como estão efetivamente cheios de fios, cabos e antenas. Os estudantes se associaram tão intimamente com Smartphones, Ipods, Ipeds, Tablets, Laptops e outros produtos estranhos, alucinantes, coloridos e barulhentos, que parecem ter se transformado em verdadeiros “voyagers do futuro” e os professores, ainda que aparentemente sejam normais, na verdade são insignes “dinossauros arcaicos”. Desta maneira, enquanto os alunos seguem na escuridão, embora na velocidade da luz, os professores seguem luminosamente, esperando o dia em que o grande meteoro trará o clarão que extinguirá a todos.

Em suma, a Educação é uma coisa legal, desde que não haja regras e nem professores. A Escola é algo melhor ainda, desde que não seja diária e nem obrigatória. O Ensino é algo fantástico, desde que seja daquilo que a televisão e a mídia mandam fazer. O Professor é um bom sujeito, o que não quer dizer que seja um sujeito bom e obviamente que ele está sujeito às intempéries. Mas, o aluno.... Ah! O aluno. O aluno é o cara! O cara de pau, que tem que passar óleo de peroba na cara todo dia para evitar a proliferação de cupim. O pior é que a Educação deveria ser para ele, mas parece que nem ele e nem o governo ainda não se tocaram desse fato.

Enfim, eu pergunto: isso é ou não é muito engraçado? Ou será muito triste?

LUIZ EDUARDO CORRÊA LIMA (57) é Biólogo (Zoólogo), Professor de Ensino Superior, Médio e Técnico, Pesquisador, Escritor e Ambientalista; é Vice- Presidente da Academia Caçapavense de Letras (ACL); foi Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Caçapava.