A NOIVA DO GRUMETE

Na quinta-feira o navio-escola aportou. Trazia consigo 39 grumetes, além dos oficiais professores. Como presente pela formatura da turma, o capitão ofereceu uma viagem pela costa nordestina do Brasil com retorno no domingo. Apenas Elesbão, dentre os alunos poderia levar a noiva, já que iria se casar nos próximos dias, seria também um presente de casamento, embora contrariasse as regras, contudo, todos os colegas aceitaram de bom grado.

Na sexta-feira, bem cedo, Elesbão subiu ao convés de braços dados com Efigênia, postou-se ante o capitão batendo-lhe continência. Em seguida caminhou vagarosamente entre os colegas a quem apresentou a noiva.

Efigênia era uma morena cor de jambo, cabelos longos e negros, grandes olhos verdes, seios eretos em forma de taça que ameaçavam saltar para fora da minúscula blusa, anca grande e arredondada e pernas roliças de peiador fino, um esplendor de mulata, tudo isso acompanhada de um sorriso lindo e provocante.

Os grumetes ficaram eufóricos, a cobiça pela mulher do colega era visível. Elesbão levou pela mão a sua noiva para a cabine que lhe foi destinada. Ficou por lá toda a manhã, somente saiu na hora do almoço. Os colegas aproximavam, conversavam amenidades, porém, Elesbão não rendia o assunto e eles logo saiam.

Após o almoço o rapaz disse a sua noiva que iria descansar um pouco, ela, contudo, respondeu que iria ficar por ali, conhecer melhor o navio e ver as paisagens. Elesbão concordou e foi para a sua cabine. Logo a moça se viu cercada de grumetes, a todos ela tratava com simpatia e muito sorriso. Após algum tempo ela se afastou do grupo acompanhada de Angelino que não perdeu tempo e partiu para cima dela:

- Efigênia, você me desculpe o atrevimento, mas eu estou louco por você. Acho até que me apaixonei.

- É verdade? Não tinha percebido, mas como você sabe eu vou me casar com o seu colega. Se não fosse o meu compromisso quem sabe?

- Meu Deus! Será que não poderíamos nos encontrar pelo menos uma vez. Ninguém vai tomar conhecimento.

- Acho perigoso, Angelino. Se alguém nos vir, estarei perdida.

- Eu garanto a você, Efigênia ninguém nos verá.

- Você garante mesmo? Olha lá! Eu confio em você.

- Pode confiar, meu amor.

O grumete notou que tinha conseguido conquistar a mulata, não cabia em si de tanta felicidade.

- Tudo bem. Vamos agora mesmo, aproveitaremos que o meu noivo está dormindo; diga-me qual é a sua cabine e fique lá me esperando, mas tem uma coisa.

- A minha cabine é a número 18; mas qual é o problema?

- Não tem problema. Mas eu cobro cem reais.

- Ah! Então é isso. Eu pago minha querida. Vamos logo.

- Vá à frente e me aguarde.

Tudo correu conforme o combinado. Angelino contou para os amigos e logo Efigênia estava atendendo a todos os grumetes. Alguns gostavam tanto que repetiam a dose. No final do passeio, ou seja, no domingo à tarde, Elesbão de braços dados com Efigênia despediu-se de todos os colegas, perfilou-se ante o comandante e elegantemente bateu continência, girou-se nos calcanhares e saiu. Todos notaram um leve sorriso de deboche nos lábios do grumete. Alguns comentaram em tom de ironia:

- Vejam só! A noiva deu para todo mundo e ele ainda vai embora contente. A gargalhada foi geral.

Elesbão saiu das proximidades olhou para um lado e para o outro e indagou a Efigênia:

- Então querida, como foi à arrecadação?

- Melhor foi impossível, nunca ganhei tanto dinheiro num final de semana. Alguns gostaram tanto de mim que voltaram duas ou três vezes. Temos quatro mil e seiscentos reais.

- Mas eram somente 39 grumetes!

- Não lhe disse que alguns repetiram a dose! Só não faturei o capitão. O resto não sobrou ninguém.

- Que ótimo! Passe a minha parte meu amor.

- E agora Elesbão? Você vai ficar com a fama de chifrudo.

- Não faz mal o bolso está cheio. Você vai à boate hoje?

- Não vou descansar. Ficarei uns três dias sem fazer programa. Um beijo querido. Quando precisar de mim, sabe onde me encontrar.