Sobre a Colina

Havia tristeza em seus olhos . Suas mãos enrolavam num pedaço pardo de saco de pão um cigarro de maconha .De onde estávamos via-se toda a cidade brilhar através das janelas iluminadas das casas . Uma pequena garoa umedecia nossos cabelos , as conversas da outra duzia de jovens espelhados pela colina encostadas em seus carros velhos de vidros escuros chegava como algodão molhado aos meus ouvidos ao mesmo tempo em que o triste homem calçando botas de firma com seus pesados bicos de ferro dividia sua solidão e seu vazio comigo . Não o conhecia muito além do ponto de ônibus onde aguardávamos a condução para nossos trabalhos distintos . Para aquele homem o mundo havia desabado a dois anos , outra vitima , outra casca de ovo que teve sua gema dourada roubada por uma dama . Permaneci quieto sentindo o cheiro do asfalto molhado ensopar meus pulmões ouvindo a criança órfã se auto punir e pensei que se naquele momento tivesse uma estaca em punho não exitaria em martelar seu coração como um vampiro que não deseja mais viver . Duas garrafas de vinho desfilam bem a nossa frente e uma das garotas , a loura de olhos verdes do rosto todo salpicado por sardas , torce o nariz a todo momento que traga um gole 'duma ' das garrafas . Ela reclama pelo fato do

encarregado das bebidas da noite ter comprado vinho seco .

'' Nada nunca esta perfeito ''

Pragueja o rapaz , puxando o litro das mãos da mulher para lhe entregar o litro tinto .

Um grilo chato canta em meio ao capim , tem um sapo também , e lá de baixo onde as janelas brilham da para ouvir um cachorro latindo , talvez para um gato sobre o muro , ou quem sabe para a lua tímida nessa noite . ' Apareça ! Saia dai de trás dessas nuvens escuras e nos mostre o que roubastes do sol ! 'e a lua e bem mais agradável que sua amante sol porque não nos queima , não precisa disso para mostrar que esta ali , só derrama mornamente a vida o suficiente para não nos deixar cegos e tropeças em pedras enquanto andamos . Nesse exato momento em que o homem das botas de firma acende o chago seus olhos deixam escorrer uma lagrima . Ou seria a água da chuva ? Não sei , ainda acredito que seja uma lagrima salgada tudo isso porque sua garota o deixou e agora tudo que ele tem é esse chago em brasa que ele espera amortecer as dores que o tempo cruel demora a curar . Aos poucos todos no morro vão ficando bêbados , os cabelos encaracolados se alisam encharcados mas que se dane a chuva desde que nenhum de nos seja feito de açúcar porque se fosse não seriamos tão salgados quando tristes . Fazendo malabarismo para manter a brasa acesa cobrindo a boca com a mão , quando fuma o maconheiro enche seus pulmões , segura o quente em seu corpo até começar enxergar bolinhas loucas em seus olhos claros e seu rosto ficar vermelho e suas veias incharem no pescoço ; quando solta tudo empurra a fumaça com uma sequencia de tosse seca mas ninguém da outra duzia de pessoas da bola , continuam entornando as garrafas de vinho e que se dane o resto porque naquele momento estão se divertindo e é isso que conta quando se esta ao lado dos amigos . Os bons amigos sempre estão do seu lado , agarrados como pulgas incomodando quando queremos ficar sozinhos e sendo pulgas basta queima las para que o estorvo passe , mas ai fica a queimadura que arde logo depois e se a bolha for estourada a dor vai ser maior . O homem triste solitário criança órfã me passa a' bomba ' , eu não quero fumar mas ignoro isso para mostrar que estou entendendo tudo o que acontece com ele dou uma ' bola ' e logo saio do ar , vejo as gotas da chuva pingarem nas minhas mãos com grãos de arroz , minha cabeça parece um balão querendo subir e penso que a qualquer momento um soprão bem forte do vento me faça voar . Não tenho nada mais a declarar . Sua vez de falar .

11/12/2013

10h00m

Dica de livro : Tristessa ( 1956 )

Autor : Jack Kerouac

Cleber Inacio
Enviado por Cleber Inacio em 11/12/2013
Código do texto: T4607419
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