S.O.S CIVILIDADE

Está difícil de sair para trabalhar, de ser honesto num país de desonestos, de querer agir correto e ser surpreendido com um ato que vai contra aquilo que você acredita e espera enquanto cidadão... Está difícil, muito difícil mesmo querer continuar saindo de casa, mesmo sabendo que nem em casa se está seguro.

HOJE, à tarde, enquanto eu trabalhava, alguém subiu no capuz do meu carro, na parte de frente e sambou literalmente sobre ele. As pegadas das havaianas estavam lá para provar. Quem foi? Alguém diz? Alguém denuncia? Não! O silêncio é o maior remédio, é como as pessoas querem resolver os problemas de marginalização da vida cotidiana. Esses delinquentes, que fazem esse tipo de obra, são os heróis de hoje, são os ídolos da juventude de hoje. Aprenderam com quem? Com os desenhos animados, com os heróis armados que resolvem tudo pelas armas violentas que dispõem?

Está difícil sair para trabalhar, de ser sossegado ou ter sossego nesse país de gente sem escrúpulo ou noção. Na quinta-feira passada, a que antecedeu o feriado no país de Mossoró, quando encerrei o meu expediente, fui pegar meu carro, a porta traseira, do lado do motorista estava cuspida, bem cuspida e arranhada. Alguém pegou um objeto pontiagudo e fez uma obra de arte que me custará caro, muito caro fazer o reparo. Alguém pode se questionar: E por que vai de carro trabalhar? O sistema de transporte coletivo nessa cidade rosada/descolorada não funciona, o jeito é ir de transporte individual. O pior é que ninguém viu, ninguém sabe quem foi, se foi alguém da repartição pública, instituição de que trabalho. Está aqui, a porta arranhada, o capuz sambado e eu ainda ter de ser calmo, compreensivo e achar que são coisas normais...

Está difícil, muito difícil, é sério, trabalhar, sair, tentar realizar um trabalho sério de educação. Algum tempo atrás, deixei o meu carro estacionado do lado de fora do prédio que desenvolvo minhas atividades, já que lá não tem estacionamento interno, quando saí, no horário de sempre, a porta traseira, do lado do carona estava com um amasso profundo, como se alguém tivesse treinando pedrada ao alvo e acertado juntamente no lugar certo: meu carro! Levei para que um especialista examinasse e terei de pagar um "martelinho de ouro" para fazer o serviço, e sabe quanto custa? Pois é! As pessoas aparentam não se conformar com o crescimento das outras não, ou talvez tenham vontade de fazer isso com a própria pessoa (será?!), aí acertam o carro, como se isso não fosse gerar prejuízo, e quem arca com a conta? É a realidade...

Parece que foi ontem, sabe, acabei cansado o dia de trabalho, peguei o carro e fui para casa. No caminho percebi que o carro estava puxando para o lado, avistei um posto, resolvi parar. Quando vou ver, o pneu dianteiro, do lado do carona, estava sem a tampa, resolvi calibrar e constatei que o pneu estava muito seco! Falei com um frentista atencioso e ele conseguiu para mim uma tampa. No outro dia, meio dia, quando fui sair para trabalhar, senti que o pneu estava novamente baixo, fui a um posto próximo de casa, calibrei e como prevenção fui a uma borracharia. Lá o borracheiro constatou que havia um prego no pneu. Dizer o que? Deixarei que o leitor tire suas conclusões do que penso sobre o caso...

Está difícil sair para trabalhar porque tenho medo de que mais coisas piores possam acontecer. Será os frutos do trabalho de educação que desenvolvo? É para isso então que trabalho: ser refém da labuta diária que desenvolvo com tanto compromisso? Terei então obrigação de agradar a todos ou moldar-me a os desejos de cada um?

Está difícil desenvolver a função de educador num país de conjuntura tão complexa, de pessoas que não se possibilitam a mudanças, de serem pessoas de outras mentalidades, de outras condições, de comportamento diferenciado. O ser jovem de hoje está necessitado de novos heróis diferentes destes que por aí estão aos montes.

Frequentar a escola, ficar pelos corredores, não querer aprender, ficar pelas esquinas, apenas sair de casa, levantar pneu de moto, decidir as coisas apedrejando o patrimônio alheio, xingar, querer ser imortal pela força, apelar para comportamentos agressivos, ser rebelde sem causa, causar constrangimento, não é ser herói, não é ser digno de respeito dos outros, não leva ninguém a lugar nenhum...

Está difícil de registrar estas ideias porque amanhã ainda terei de trabalhar e não tenho segurança de nada, de nada. O que poderá acontecer? Alguém tirará as rodas do meu carro? Atearão fogo como se fosse a mim? Mas e aí? Resolve o quê?

S.O.S civilidade, s.o.s. porque está difícil de viver sem dizer a verdade.

Marcus Vinicius