FIM DE ANO, NOVA AGENDA

Fim de ano chegando e eu já começando a refazer a agenda. Primeiro saber dos nomes e das pessoas que aqui estão, com quem eu tive contato, quem serviu apenas como acumulo, entulho, peso e ocupação de espaço. Fazer a terapia do conheço, sei que é, muito me agrada, pouco tenho contato, nunca vi de outro jeito e, nossa, acender o coração com o nome ou imagem daqueles que, poxa, quanto tempo faz que não vejo, como tenho vontade de reencontrar, dizer alô e os outros tantos que partiram, se foram e nem posso mais guardar o número, endereço porque não existe serviço de correio no mundo do além...

Fim de ano chegando e nada de poeira debaixo do tapete, nem no canto da parede, detrás da porta. Picotar papéis sem valentia e jogar fora os de bombons que já não tem mais gosto nem sentido de ficar guardado dentro daquele livro que tanto gosto, não, nada disso. A vida necessita de utilidade, de termos somente o necessário porque o excesso cria mofo, atrai barata, traças e só serve como ninho de rato. Ainda bem que as fotos são mais fáceis: sentar no computador, escolher, excluir, deletar, espere, sorrir e chorar de cenas inesquecíveis do resto de nossas vidas. Achar que algumas nos deixaram gordos, outras tantas a claridade tirou o brilho, mas as do Photoshop, todas perfeitas! Caras. bocas. sorrisos. passeios. turmas. sol. tempos...

Fim de ano chegando e o coração cheio de guloseimas, necessitado de bastante sabão, bastante água e bucha de aço. Começar limpando pelas beiradas, com clama, cuidado e atenção. Retirar a ferrugem, eliminar as gorduras excessivas, chegar no meio e deliciar-se com aquilo que ficou.

Lembrar de fazer nova lista, listar pessoas que poderão estar precisados do som de minha voz, aquele amigo que fiquei tantas vezes de ligar e, tantas vezes prometi de assistir ao filme comendo aquela pipoca, mas; como também daqueles que apareceram tantas vezes e tantas vezes partilhamos de momentos variados. Antes mesmo de acender vela, velar outras possibilidades, mergulhar em mim, saber o quer funcionou ou o que não funcionou esse ano em minha vida. Aquelas coisas que havia planejado e deixei de lado, embora soubesse que se tivesse pensando melhor, talvez... Talvez o momento seja esse!

Fazei a ceia interior, assear tudo com o desinfetante da solidariedade. Nos lugares mais obscuros usar a clarividência, deixar em evidência o que é lixo e do luxo nascer nada um novo momento de gratidão e renovação de esperança sem fim...

Sem fim é essa arrumação de fim de ano, comecei pela agenda e nem sei por onde continuar. Quem sabe passando a limpo os nomes, relembrando o momento, a ocasião e o motivo de como aquele nome veio parar aqui. Descobrir o formato de cada ser. Sorrir como o reencontro e quem sabe retomar laços que se desgastaram sem que eu percebesse que a vida lá fora passa e eu, pela falta de tempo, nem dou conta.