VELHICE CHEGANDO...

Hoje atravessei os limites da sanidade mental, ou pelo menos o limite da memória. Aconteceu naturalmente e quase passou despercebida essa mudança. Cérebro tem prazo de validade? Será que entrei na zona onde o passado some? Difícil saber, mas o fato é que pensei num ator conhecido e seu nome havia fugido de minha cabeça. Seus traços, no entanto continuavam claros, mas anônimo. Que susto! Logo percebi que não apenas esse, mas outro havia sumido. Pensei em "Cem anos de solidão". O quanto antes terei que procurar métodos de conservar meu passado. Somente depois de constatar que algo estava acontecendo foi que comecei a me apavorar. Um simples nome me alertou. Quem sabe isso volte a acontecer e quem sabe voltarei a esquecer de nomes, talvez datas, pessoas, eu... Esse é o começo de uma estrada que deverá ser caminhada com cautela.

Talvez até consiga escrever tudo que precisar lembrar. E se eu esquecer o que preciso lembrar? De qualquer maneira será uma boa tática. Bem, me assustei...

Não me entendo velha. Acho que no afã de viver a vida nos extremos, não percebi que os anos passaram, e com que rapidez, que mesmo que me veja jovem, essa imagem só a mim pertence. Talvez por querer tanto que essa imagem fosse real procuro esquecer a verdade. De tanto que pinto os cabelos, já esqueci de como eles são. Claro que devem ser brancos... A maquiagem sempre me ajuda a ver um rosto com pele sem rugas. Escrever isso me dói, mas acho que é uma maneira de entender e aceitar que a velhice está batendo à minha porta.

Que ela venha sem dor, sem trauma, venha lenta e que permita escrever ainda por bastante tempo para que me mantenha viva.