VAZIOS COMPLETOS

Pamonha, Pamonha, Pamonha....é com você mesmo que falo e desta vez você não poderá fugir, fechar os vidros do carro ou janelas da casa para abafar os ruídos que tanto te incomodam.

Eu bem poderia ter postado algo em um dos seus milhares de perfis na rede, comprado um espaço nos classificados de domingo, costurado a mensagem na boca de um sapo pra depois enterrar em seu jardim, montado em praça pública uma barraquinha dessas que leem a sorte, jogam tarô, revelam passado, presente e filme queimado. Mas optei por essa versão mais intimista.

Sei que nos perdemos e o que havia entre nós acabou.

Peço que me desculpe por todas as vezes em que nossos olhares não se encontraram, não importando o motivo ou de quem foi a culpa;

Peço que me desculpe por todas as vezes que nossas mãos buscaram ansiosamente uma pela outra pra obter a conhecida acolhida, o aconchego, a cumplicidade pelas já desgastadas linhas da vida, dando ao coração a sensação de que a tormenta cessara;

Peço que me desculpe por todas as brigas tolas e pelas homéricas também. Por todas as vezes em que sai andando , tamanho o medo de te perder. Das vezes em que gritei pra você não ouvir meu pranto. Das vezes em que fingi não voltar pra você não perceber que nunca havia saído. Das tantas tranqueiras que acumulei ao longo dos anos;

Peço que me desculpe por todas as vezes que busquei e encontrei no calor do teu abraço forte e envolvente a proteção que criava vida, no beijo que me arrepiava a nuca e fazia da entrega mais do que uma simples entrega, um amor líquido, vívido, denso e intenso;

Peço que me desculpe por todas a vezes que o mundo parecia desabar sobre nossas cabeças e sentíamos o coração miúdo e desprezado por tanta agrura, mas bastava encontrar teus pés frios sob o edredom no meio da noite pra ter certeza de que logo cedo o sol estaria ali na nossa janela e tudo floresceria novamente assim que você sorrisse;

Peço que me desculpe quando por fim cedi e deixei a cidade na qual construí meu mundo e nunca havia cogitado me mudar. Ali era minha morada. Ali eu enfraqueci, quase quebrei. Esperei e então descobri que nada nunca fora tão triste;

Silêncio. Você não imagina quantas vezes abracei tua ausência e cheguei a sentir teu cheiro.

Peço que me desculpe. Não resisiti. Morri.