JARDINAGEM POÉTICA

As pessoas em minha vida são como as flores: produtoras de beleza, perfume e encantamentos. A beleza está no caráter, o perfume está nas atitudes e os encantamentos nas ações. Sem caráter, atitudes e ações, as relações tornam-se insignificantes, desnecessárias, desmotivadas. Pessoasflores existem para embelezar, perfumar e encantar a vida, por tanto, deve sempre haver uma harmonia entre o ser e o ter, entre o ter e o querer, entre o querer ser e ser ou ter/ser ou tecer o tecido da vida com fios dourados de consideração e amizade, numa cadeia dinâmica de reciprocidade e atenção de sempre um olhar no olho do outro num processo de diálogo, de apertos calorosos de mãos em encontros cotidianos ou abraços ternos quando necessitados.

As pessoas em minha vida são regadas a base de bastante água: a água molha a raiz, banha as folhas e irriga os frutos. A raiz necessita ser bem molhada porque é responsável pela sustentação do fundamento inicial do conhecimento, produtora de valores e laços eternos de boa convivência e prosperidade. Debaixo das folhas estão o aconchego, a afetividade e a sombra. Nenhuma relação de amizade resiste sem que haja esses ingredientes por isso a necessidade constante de se banhar as folhas, de torná-las vivas, provedoras de sábia sabedoria. Dessa forma, os frutos bem irrigados tornar-se-ão gratidão, elo cativado, responsabilidade um com o outro, desejo de comunhão entre o pensar e o agir, entre o agir e o sentir ou interagir no processo sinfônico de ressignificação do tempo que gastamos como jardineiros de pessoas/plantas.

As pessoas em minha vida têm cheiro, sabor, cor, som e poesia: o cheiro me invade pelo olfato da necessidade de respiração diária, vai até os pulmões e impulsiona vida em mim, bombardeia o sangue no meu coração e acelera as funções do meu cérebro. É responsável pela fusão do meu querer estar junto e fazer canção. Já o sabor, além de ser palato, também é tato. Algo sinestésico! Cada um eu degusto por aquilo que me apresenta, seja isso ou aquilo, estão sempre no instante armado que salivo na ponta da língua. Pela língua descubro o insosso ou o salgado, o áspero ou liso, a gratidão ou o estado psicótico de não ser o que deveria conter no frasco aparente. Aparentemente, pela visão, fecho os olhos e no escuro vejo a aura multicolorida num êxtase frenético de solidariedade de amar os iguais e amar os diferentes, cada um no seu tom, na sua vivacidade, clareza ou silhueta mais fechada. A cor de cada um está na personalidade arraigada de crença, credo e cultura, orientação e raça. A mistura sonora das pisadas de pés, batidas de mãos, pulsação acelerada ou ritmos diversos, batuques diversos, diversas manifestações de agrados, mimos e diferenças. A cada um uma nota, uma escala, uma melodia, um instrumento e harmonia humana porque em minha vida, as pessoas, muitas pessoas e há pessoas de som multicultural. São, as pessoas em minha vida, poéticas. Cada uma se modela num formato, seja ele verso rimado, verso livre ou concreto. Estão para padrões, assim como quebram estigmas e vão, por aí, como as flores, embelezando, perfumando e encantando a todos, em espaços dinâmicos de mudanças urgentes. As pessoas são "gente" ou "gentes", agentes necessitados de gentilezas, promoções e dignidade. Cada uma em minha vida exala, age, tem ânima e proporciona descobertas, trabalho, adubo. Dispenso, às vezes, a métrica, a cadência, o soneto, porque desafio a ousadia e toda pessoa poesia necessita de espaço, são espaçosas, para novas invenções...

As pessoas em minha vida vêm, mas também se vão. Assim como as flores que são arrancadas dos galhos, murcham, perdem a cor, definham, perdem a beleza, esvai-se o perfume, o som, muda-se a poesia, emudece, transformam-se e também têm a chance de renascer.