ANJO TORTURADO



Tua amargura é plausível, como um anjo condenado ao degredo.
E até parece que fosses criado à exaustão de Deus.
És aquele que não foi ungido pela palavra; que não herdou sua imagem e semelhança..
Por isso...
Explêndido é a tua revolta. E magnífico é o teu poder de denúncia.
Nada te cala...!
E por nada haverás de permanecer em silêncio.
E assim, lideras, paulatinamente, uma rebelião silenciosa contra o Criador.

Credes na resurreição da carne?
- Não...! - Nem em ti...! - Nem em nada...!
Apenas te auto-esconjuras, e te acusas de ser pedra excessiva no tabuleiro.
Os dias passam...
E indiferentes são à tua existência, e como nas manhãs cinzentas de domingos.
- Porque assim te concebes,,, - Porque assim, crês.
E nada te fará raciocinar com teus pares,
E nem mesmo a similaridade perdurará à elevação dos sentimentos.

Decididamente, amigo... Não fosses ungido pela palavra.
Não herdasses do Criador a sua imagem e semelhança.
E se não renegasses a própria existência,
É por que vês como fraqueza, e não como ousadia, a execução do derradeiro gesto.

Serás o descuido de Deus; ou a excreção da carne por repugnância dos germes?
- Não...! - Nem uma coisa nem outra...!
- Apenas o estágio de suprema consciência, e a tortura implacável por te admitires consciente a tudo.
Não te haverá clemência ao derradeiro instante.

E nem mesmo o túmulo guardará satisfeito os teus despojos.
E em nenhum lugar do Universo te permitirás presente.
E como tal te defines... Degredado que fosses da Iluminação dos seres.
E como tal te declinas... Amaldiçoado que fosses à condição de sopro do Onipotente.

Aprendesses tudo. E em nada te demonstras saciado.
E agora degustas, por decomposição, a iluminação retroativa dos teus conhecimentos.
Mas a beleza da rosa não te ludibriará o sabor do fruto.
És exato e absoluto em tuas percepções.
E assim sendo,
A rosa continuará linda, adornando a vida. O fruto continuará acre, amaldiçoando a sorte.

Tendes agora como única certeza... A elevação do teu próprio Cadafalso.
E não te restará mais nada, que não seja a magnitude da suprema loucura.

As gerações vindouras haverão de te blasfemar pelos séculos.
De te equivaler aos porcos.
E não encontrando medidas ao teu infortúnio,
Por piedade, te imaginarão sublimemente pútrido.
E antes que assim te concebas,
Beija desesperadamente todas as bocas,
Escarra despudoradamente sobre todas as faces,
Renega amaldiçoadamente a todas as existências,
E para provar que és sublime... Contamina-os com Pureza.