Eu desisto!

Difícil é saber se estou mudando de rota por sede de um futuro melhor ou por preguiça de continuar no mesmo caminho. Desistir tem esse peso, pois tem fama na sociedade de ser ruim e covarde. Só desiste quem é fraco, dizem.

Então, quando sinto necessidade de mudar, sempre fico nesse debate interno que me causa pesadelos à noite e me deixa com ar sombrio durante os dias. Fico tirando minhas máscaras, tentando me despir das ilusões e das desculpas esfarrapadas. Jogo fora as camadas de complexidade para ficar vulnerável, admitir a minha verdade nua e crua e responder: Por que estou parando agora?!

Esse lento processo vale para tantas situações que meu cérebro às vezes se sobrecarrega. Mas fazer o quê? É assim que eu peso minha vida, os prós e contras, e me liberto, quebro o ciclo. Faço isso pois tenho pavor de comodismo e horror a manter comigo o que me faz mal. Há muita gente por aí (e eu também) desistindo de desistir por puro medo do que vem depois ou porque nos sentimos inibidos. Perseverar parece uma obrigação.

Estou falando dessas horas em que olho para um trabalho, um relacionamento, uma rota qualquer, e sinto por dentro uma agonia vulcânica que eu sou pressionada a ignorar. Escuto o suspiro de consciência dizendo que isso está errado, mas deixo tudo igual por insistência, por achar que preciso insistir.

É como se eu estivesse montando um quebra-cabeça. Eu em uma frustração crescente porque estou empurrando uma peça ali no meio, e ela até cabe, mas não tem aquele encaixe perfeito. E eu continuo tentando com a mesma peça, no mesmo ponto, outros ângulos, em vez de considerar todas os outros pedaços soltos do conjunto. Com esse tipo de teimosia, não dá para avançar e meu quebra-cabeça jamais ficará completo.

Quando penso nesse imenso quebra-cabeça que é minha vida, lembro que tenho o poder de mudar meu caminho. Escapar para um plano B ou C, ou Z, nem sempre é uma necessidade criada pelo meu lado covarde. A verdade é que desistir às vezes requer muita coragem. A bravura de um cego que decide explorar o Grand Canyon, sem cão-guia e sem bengala.

Parar a inércia de uma rotina, dizer "chega", "acabou", "adeus" bagunça a gente por dentro. Até dói um pouco, mesmo quando você sabe que precisa fazer isso e manter o pulso firme. Nessa fase crítica, devemos reconhecer que desistir tem o potencial de transformação triunfante. Eu, igual a uma cobra, rastejando no deserto por horas. O esforço sob o sol escaldante para trocar de pele, deixar para trás o velho que me sufoca. Só então consigo expandir meu corpo, meu coração, meu tudo... E posso evoluir.