REMINISCÊNCIAS DE MINHA INFÂNCIA

A música me leva onde meus olhos não alcançam...

meus sonhos, talvez!

O passado vem em lembranças; como daquele algodão doce do parquinho bem pertinho lá de casa. Doce infância, misturada com juventude.

A timidez só não era maior do que a esperança em balbuciar uma frase completa, olhando nos olhos daquela menina bonita da rua lá de cima.

Os chinelos no piso de terra, o corpo imberbe e a bermuda meio que arranjada – era do meu pai – faziam parte daqueles tempos idos. Estaríamos quase que usando o mesmo número - para orgulho da minha mãe - não fosse aquela magreza beirando o raquitismo. Naquele corpo só os hormônios sobravam.

Era um tempo sem muitas esperanças de dias melhores. Não conhecia mais do que aquilo que tinha. Os desejos de menino do interior ainda podiam ser contados nos dedos.

Pescar com meu velho pai nos domingos, jogar bola com os amigos lá “campinho do seu Pedro”, jogar pião, brincar de bila – bolinha de gude – em raros dias de chuva, aproveitando aquela areia lisinha e úmida, soltar arraia, caçar com os cachorros – ter cachorro naquele tempo não era moda, era amor mesmo – tudo ficou para trás. Mas as memórias são recentes.

Da janela do apartamento o toque do celular me trouxe a realidade de volta. Minha filha mais nova – do casamento anterior - liga para saber do tênis do colégio que ainda não compramos. Perguntei-lhe pelo outro ainda novinho.

- Não cabe mais no meu pé. Respondeu.

Com um sorriso respondi que no dia seguinte resolveríamos o problema. De imediato lembrei –me do meu último par de “kichutes”. Eu já calçava 41 e minha mãe comprou um 42 na esperança de que meu pé crescesse mais um pouco e o “bicho não ficasse perdido”.

Meu pé não cresceu, ainda calço 41, e até hoje guardo aquele trauma de ter de encher o calçado com papel para poder bater uma bola na quadra do colégio, sem o danado sair do meu pé no primeiro chute de bico.

Na manhã seguinte um novo calçado estava nos pés da minha princesa. Não, não era um número maior do que o pé dela aceitava, apesar dos apelos insistentes de sua mãe.