O vexame da Noite de Natal

Eram aproximadamente 20 horas quando chegamos. A parentada toda já estava reunida, a essa altura do campeonato haviam executado várias etapas da solenidade e a parte mais chata já estava quase no final. No exato momento as pessoas estavam se dando as mãos para rezarem o pai nosso. Graças a Deus já estão terminando, pensei com os meus botões. Entrei sem muito alarde e cumprimentei silenciosamente apertando as mãos das pessoas que estavam na entrada. Entre elas havia uma que eu não conhecia. Era uma mulher de pele negra, cabelos curtos escovados, de um sorriso aberto que cumprimentei com simpatia. Algo nela me atraia. Mais tarde pude observar que além do sorriso, tinha pernas bem torneadas, seios grandes e salientes sob a blusa bem comportada. Imaginei como seria aqueles seios roliços sem aqueles tecidos cobrindo-os. Pele lisa, brilhosa, macia com os mamilos negros apontando para o alto orgulhosa e provocante. Imaginei minhas mãos apalpando aqueles peitos duros e ao mesmo tempo tenro e macio. Não era exatamente uma mulher bonita. Pequena, de rosto redondo, nariz chato, olhos estreitos e uma boca que fechada parecia estar sorrindo e aberta parecia fazendo um biquinho charmoso, era digamos assim, de uma beleza exótica . Assim que a solenidade terminou, sentei-me de frente pra ela e fiquei observando o seu comportamento enquanto bebericava. Como eu estava acompanhado da minha mulher, não podia dar bandeira, mas fiquei na espreita para na primeira oportunidade me aproximar para conhecê-la melhor e avaliar as possibilidades. Suas mãos pequenas com dedos finos traziam alguns aneis na mão direita e nenhum na esquerda o que indicava que não era casada, um ótimo sinal. Nada mais promissor do que uma mulher solteira na casa dos quarenta anos, pensei.

A festa estava animada, música brega antiga, marcava o rítmo. Cerveja gelada rolava a vontade e ela, estrategicamente sentada ao lado do isopor, servia e se servia generosamente cada vez que alguém se aproximava. Logo ela estava cantando em voz arrastada todas as canções, balançando seu corpo voluptuosamente, e aqueles peitos que subiam e desciam me provocavam. Era chamá-la para dançar e fazer aqueles peitos se aquietarem presos no meu aperto.

– Vem dançar, chamei.

Ela levantou-se sorrindo, estendeu seus braços e se aproximou para o meu abraço. O calor do seu corpo me envolveu imediatamente, e tão rápido quanto o seu abraço meu corpo reagiu sob a minha cueca. Puxei-a pela cintura e ela sentiu o volume e como sinal de consentimento grudou no meu abraço e sussurrou: “adoro essa música”. Mas nesse momento já não ouvia mais a música, apenas sentia o balançar daquele corpo quente grudado no meu e que eu segurava para não deixar escapar.

- Como se chama?

- Carmem.

- Onde você mora?

- Aqui perto, vem. É logo aqui.

Não fui. Próximo da saída, perfeitamente atenta aos meus movimentos a minha mulher me vigiava. Aproximou-se e com um sorriso dissimulado falou para a minha amiga.

- Você me deixa dançar um pouco com meu marido?

Ela não protestou, cedeu seu lugar, e eu tive que dançar com cuidado para não apertar muito e não me denunciar com o meu volume excessivo.

Não demorou muito ela deu a sua sentença fatal.

- Vamos pra casa, meu bem. Você já bebeu demais, nem consegue dançar direito.