O EXTREMISMO

Vivemos tempos curiosos. A Era do Extremismo. Sempre falamos por aí de Comunismo, Socialismo, Anarquismo, Capitalismo, Liberalismo, Absolutismo, Feudalismo, ou seja lá qual o substantivo que você, leitor, se lembra, porém, é o Extremismo que impera agora. E tal momento é tão complicado porque o Extremismo não interfere apenas em política, na economia, nas fronteiras, em guerras. Ele está em tudo. Na briga entre vizinhos, nas opiniões embasadas, nos blogs definitivos, nas redes sociais, no almoço de domingo, na interpretação de manchetes, na decisão da religião, na definição do Coelhinho da Páscoa, no laboratório de células-tronco. Em tudo. Tudo aquilo que cria nossas impressões fundamentais. Que define nosso caráter.

O dualismo PT x PSDB, a contradição máxima num país multipartidário, virou fichinha, poeira que se assenta em segundos, diante do Extremismo. Ele é mais poderoso que a magnética, pois nos obriga a ir para um dos lados queiramos ou não. Não temos escolha. É mais incontrolável que o “bem dormindo” do Fábio Puentes.

Protestos nas ruas? Ou é conspiração, ou é fogo de palha. E aí se encerra o debate. Os porquês, o como, o onde, o quem, o quando, o para aonde dão preguiça. Para que discutir? Apenas o imediatismo serve. E o imediatismo serve ao maniqueísmo. É muito complexo, cansa às pessoas acompanhar, de mente aberta, aceitando as diferenças, a História em evolução – mesmo sem se saber onde isso tudo vai dar.

E as opiniões extremadas, únicas e definitivas, estão em cada aspecto, independente da magnitude. Cãezinhos/cobaias resgatados de laboratório? Ou é coisa de eco-histéricos ou de “sejamos todos veganos”. Rolezinho? Ah, ou são marginais, ou, então, mais um movimento na luta de classes. Decisões econômicas? Ou é assistencialismo, ou é “ensine a pescar”. É difícil compreender que um país, ainda mais o Brasil, do Maranhão do Sarney aos pampas gaúchos, é a terrível complexidade. Que todas as ideias podem e precisam coexistir. Cada uma no seu momento, no seu lugar, nas suas necessidades e com objetivos de curto a longos prazos.

Responda-me: quando deixamos de ser humanos? Quando deixamos de reparar em nossos pares? Quando perdemos a capacidade de perceber que o outro é diferente, multidisplinarmente. Uma mistura. Somos sete bilhões e, salvo os gêmeos idênticos, todos diferentes. Cabelo, pele, altura, gordura, timbre, digitais, olhos, rugas, narizes, arcadas, formação, cultura, língua, gostos. Todos diferentes. Se assim somos, como podemos definir que só há dois caminhos? Pior: como podemos definir o que é certo e errado para o outro?

Vejamos um exemplo prático, e pessoal, de um equivoco crasso. Comentei semana passada que eu havia sido preconceituoso em um texto meu. Falava de gostos musicais nele. Na hora, não percebi que tinha ultrapassado o limite, mas com o tempo fui me dando conta. Inclusive, tirei-o do ar. E cheguei a tal conclusão porque, depois que o publiquei, comecei a ler artigos aqui e ali sobre o famoso “rolezinho” (um assunto correlato ao que eu tinha abordado) e comecei a me incomodar com o que eu havia escrito. Fiz um mea culpa e repensei meus atos.

É duro aceitar o erro, é duro se ver defeituoso, é duro entender que, por vezes, temos pensamentos tacanhos – e que muitas vezes eles nos estão impregnados pelo ambiente que vivemos, pela tevê que assistimos, pelas coisas que lemos. Nem sempre é proposital. Temos de entender que nosso cérebro também é multifacetado e nos esconde tranqueiras no famigerado subconsciente. Coisas essas que às vezes afloram de modo errado.

O nosso papel é lutar contra isso. Perceber se aquilo que criticamos ou defendemos de maneira arraigada não é exagero, ou preconceito, ou presta um desserviço à sociedade. Quando batemos discriminadamente em alguém, ou num grupo, ou num programa, raramente paramos para refletir os pormenores e o meio termo. Preste atenção nos 8 ou 80. Quando você decidir bater na política econômica de beltrano, na manipulação de crenças de fulano, na ditadura de cicrano, olhe para todos os lados antes. Olhe, principalmente, para dentro de si mesmo e veja o que o formou e porque você pensa daquele modo. Tente não sair disparando disparates nas timelines alheia sem antes dar uma avaliada nos termos postos, todos eles, sobre a mesa.

Eu tenho tentado fazer isso. E no meu caso é um pouco mais complicado, pois minha profissão é escrever. Sou jornalista, redator e metido a escritor. Dar opinião (ou evitar proferi-la, dependendo do contexto) é o que eu faço para viver. Contudo, eis a graça, minha intenção aqui não é fazer com que escondamos nossas opiniões. Pelo contrário. Quero que a gente consiga as expor cada vez mais, desde que sejam mais embasadas, debatidas e analisadas. Assim, quem sabe, diminuiremos os extremos e encontraremos mais respeito. Continuaremos nos posicionando, mas será algo mais rosa dos ventos.

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Beto Pacheco
Enviado por Beto Pacheco em 21/01/2014
Código do texto: T4659053
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