A mulher do gringo (a vingança dos Papareias)!

Conheci o Tom quando era adolescente, pois o gringo era frequentador assíduo do bar onde a turma se reunia para tomar algumas cervejinhas depois da pelada dos sábados. Convidado por alguém do grupo, o gringo começou aos poucos á fazer parte da "rodinha" e a entrar nas conversas da turma. O problema era que depois de algum tempo, o gringo se transformava, despertando a ira da turma,pois com um discurso exageradamente americanófilo, derretia-se em elogios ao seu país de origem e menosprezava o Brasil e os brasileiros. Sujeito normalmente afável e tranqüilo, o gringo se transformava quando começava á beber! Quanto mais bebia, pior ficava. Executivo de uma grande companhia de navegação do Tio Sam, fora transferido para a nossa Rio grande de São Pedro á contragosto, deixando Nova York, onde residia e tendo que se mudar para os confins do Rio Grande do Sul. Segundo o Tom, o Brasil era uma merda de país e merdas os seus habitantes, botocudos indignos de ombrear-se com ele, cidadão americano e descendente dos tripulantes do “Mayflower”... Com quase dois metros de altura e um etílico discurso em um sofrível português, achava o nosso futebol uma bobagem e era fã de beisebol e basquete. Eramos simples aborígenes e “cucarachas” e nos restava o direito de sermos explorados pelos inteligentes americanos, que sabiam como fazer bem as coisas, já que nós éramos burros demais. A turma acabava ficando indignada com o gringo e as discussões eram acaloradas, intermináveis e recheadas de pesadíssimos insultos etílicos de parte á parte. Em várias ocasiões, a coisa quase descambou para a pancadaria, sendo os contendores acalmados pelo proprietário do bar, que ameaçava chamar a polícia para acabar com a confusão. As coisas ficavam melhores quando a esposa do Tom, Miss Pamela, participava da roda, embora não das discussões. Miss Pamela era o sonho americano, e com certeza era também o sonho de todos da turma. Alta, loira, angelical, olhos azuis de perdição, era linda! Linda, mas inatingível, ainda mais para nós, meros trogloditas latino-americanos. Só nos restava olhar e sonhar... O turbulento convívio com o Tom durou muitos meses, tendo acabado de repente sem que se soubesse o motivo do desaparecimento do gringo. Tom e Pamela recolheram-se ao seu luxuoso apartamento na Rua Mal. Floriano e de lá não mais saíram, a não ser para o essencial. Aos poucos, e com a ajuda dos fofoqueiros profissionais da cidade, ficamos sabendo que o Tom tinha sido corneado!! A angelical Pamela acabou sendo seduzida por um motorista de táxi das redondezas,e envolveu-se em um rumoroso e tumultuado “affair” com o sujeito, fato que abalou profundamente as estruturas da pequena, mas poderosa comunidade WASP da Cidade do Rio Grande. A turma do boteco comemorou entusiasticamente, pois a honra brasileira tinha sido salva!! Fomos vingados! O atônito taxista foi carregado nos ombros pela Mal. Floriano afora por um apoteótico "ajuntamento" de "borrachos" como um símbolo vivo da superioridade Papareia, pelo menos no que dizia respeito á sacanagem. Pensando bem, não sei se isto provou alguma coisa, pois como alguém se deu conta alguns dias depois, o tal taxista era quase um sósia do Joe Cocker!