Pronto, falei!

Estou ciente que tudo o que eu escrever aqui pode soar um pouco repetitivo, não por mim, mas por essa nuvem de pessoas insatisfeitas com a situação do nosso país, mas tenho de marcar meu ponto. Aliás, se tem uma coisa que minha Vó Maria me ensinou e que eu nunca esqueci é que uma menina jamais deve usar uma roupa remendada, pois não é porque alguém é pobre que deve ser acomodado e desleixado. Ponto para ela. Minha intenção com essa crônica é costurar algumas ideias, mesmo que sejam recortes destoantes de algum raciocínio banal durante o dia. É sempre melhor estar com a caneta em punho, do que olhando para o teto, vendo a vida passar.

Quero falar sobre esses adolescentes e jovens que promovem essa modinha de “rolezinhos”, a priori. Eu não estava muito por dentro dos acontecimentos e esperei a poeira abaixar para comentar sobre. Na verdade eu até desisti de escrever, mas hoje vi uma matéria e isso me chamou a atenção, não tanto pela novidade, mas pela indignação de algumas propostas colocadas sobre a bancada do jornalismo da emissora.

Na reportagem, a jornalista dizia que o governo brasileiro vai investir na cultura para evitar esse movimento juvenil. Eu, que nunca fui muito fã de política, decidi assistir a pauta até o final, incrédula que aquilo pudesse ser real. Admito que talvez o nosso país seja carente de movimentos culturais, mas injetar cultura a torto e a direito para esse fim, é chover no molhado, já que uma coisa nada tem a ver com a outra.

Eu nasci em 1985, sei que não faz tanto tempo assim, mas vejo uma diferença discrepante em relação aos tempos atuais. Antigamente o acesso a livros, filmes, teatro e música, era algo meio engessado, não havia tanta disponibilidade e tecnologia como temos hoje. O que realmente acontece é que há uma inversão de prioridades. Hoje em dia, a juventude vive às custas de uma superficialidade ilusória, que acredita só ter valor quem tem o que ostentar. É mais interessante gastar mil reais em um tênis de marca (mesmo sem ter condições para tal) do que pagar quarenta em um livro. E os pais, que tentam enxertar as lacunas do convívio familiar com dinheiro e presentes, não percebem o monstro que estão alimentando. Tudo é uma questão de desculpa e pressa: desculpa que os filhos utilizam alegando ausência dos pais, pressa dos pais em liquidar a birra dos filhos, abstendo-se da difícil tarefa de educar.

Admito que temos um governo “tapa-buracos”, onde a politicagem rola solta e sem critério, calando a boca da população com migalhas. É bolsa família, UPP que não pacifica nada, só maquia a verdade (nunca esqueço o carnaval que foi no Complexo do Alemão há anos atrás, com bandeirinha fincada no alto do morro e tudo), UPA que só serviu até hoje para ludibriar o povo, quando o que se precisa é de hospital de qualidade, fora a graninha mensal que os presidiários recebem pelo belo feito de terem cometido um crime, ganhando às vezes mais do que um trabalhador honesto que acorda quatro da manhã para garantir o alimento de cinco bocas. Multas por jogar lixo no chão, IPVA exorbitante cobrado por estradas esburacadas, enfim, a lista é longa. Mas não é porque os representantes (que representam sua própria falta de escrúpulos) não fazem nada que devemos cruzar os braços e achar que a vida é linda e que nada temos a ver com isso.

A atitude desses adolescentes não é justificável pela falta de cultura. Tem relação com ausência de embasamento e orientação familiar. Crianças que desfrutam de uma educação deficiente e não são motivados a buscarem informação, serão alienados e poucos esclarecidos. E não adianta culpar os professores ou o sistema educacional. Educação, para mim, vem de berço e força de vontade. De dentro de casa, com propagação de valores morais. Com prioridades relevantes, respeito a si e aos outros, com olhos humanos pendurados no varal da vida. Se a criança é uma folha em branco como dizem, os pais tem o dever de ajuda-las a escreverem suas próprias histórias. Orientar o voo. Preocupar-se com o cidadão que estamos inserindo na sociedade.

Aquele ditado é certo: quando os gatos saem, os ratos fazem a festa, ou melhor, os rolezinhos.

ARYANE SILVA
Enviado por ARYANE SILVA em 29/01/2014
Código do texto: T4670144
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