Uma noite a mais

Ao acordar, pela manhã, fui ao banheiro como faço todos os dias, e, ávida que estava para tomar o meu primeiro banho, me deparei com ela ali, dividindo o mesmo espaço que eu. Quase não pude acreditar. Quanta insolência!Quanta ousadia! Um insulto à minha pessoa. Já não bastava ter dividido o mesmo quarto durante toda a noite? Não, claro que não, a criatura era abusada. Queria mesmo me afrontar.

Se fingiu de morta, me ignorou completamente. Era como se eu não fosse a dona daquele quadrado, como todos os outros quadrados e retângulos do meu apartamento.

Eu me deixei ficar um tanto nervosa com sua presença, sem saber mesmo como agir. E, tinha que agir. Não deveria, para o meu próprio bem, deixá-la impune pelos danos causados à minha pessoa na noite anterior, até porque já previa que, se não eliminasse de uma vez por todas esta "assassina", seria ela a fazê-lo comigo.

Será necessário voltar um pouco nas horas para explicar a você, caro leitor, o porquê de tanta raiva e indignação. Certamente irá me apoiar. Peço que não me julgue antes do tempo.

Era mais uma noite de intenso calor deste verão jamais tido em tantos anos nesta cidade. Uma sexta-feira, poderia ser 13 mas, era 31 de janeiro.

Já passava das 11 horas da noite quando fui tentar dormir, depois da novela das nove ter finalmente terminado, pois nos últimos três meses era tanta enrolação, que a população já estava farta das trocas de casais, das maldades...ops..isso não vem ao caso, voltemos para o teor central.

Me acomodei no meu leito, quase nupcial. A minha gata, esperta, já estava deitada no seu canto predileto, os pés da cama.

A janela estava escancarada para captar qualquer brisa que fosse. Em vão. Nada se mexia e o único vento que soprava intermitente era do meu ventilador, bendito ventilador.

Aí começou a minha saga: não conseguia conciliar o sono. Virava para um lado e para o outro. Deitei na cabeceira e nos pés da cama. Peguei o smartfone e fui espiar as últimas novidades dos posts, meus e dos amigos.

Levantei e fui tomar um copo d'água. Abri a porta da sacada, mas, não gosto, particularmente, de deixá-la aberta, sabe né...as criaturas da noite....

Voltei a me acomodar. A Mitcha, minha gata, estava incomodada, não sei se apenas com o calor ou também comigo, com esse vai e vém. Me olhava com os olhos, profundamente azuis, semi-cerrados. Ufa! ainda bem que o animalzinho gosta de mim.

Creio que devo ter pego no sono por uns 20 minutos, não mais, quando ela, a assassina, se mostrou, quer dizer, não de corpo e alma, apenas "alguém" onipresente. Mas, para mim, que tentava se deixar levar pelo tão merecido e "caçado" sono, uma vítima de suas garras, ela, a algoz, era muito presente.

Veio sem fazer barulho, ou talvez o tenha feito, mas, que foi ofuscado pelo ventilador, meu companheiro de jornada do último mês.

A assassina queria algo de mim, tentei capturá-la na escuridão. Impossível, Acendi a luz e...nem sombra. Me deixei ficar ali, me coçando: braço, perna, costas. Uma agonia nunca vista, sentida. Inferno, este calor que não melhora.

Me recolhi de novo e, advinhem..eis que volta a criatura impiedosa. Me cobri, tentando ser indiferente à temperatura. E, não deu.

Bem, caros leitores, em algum momento, fui vencida pelo sono. Enfim, veio, a despeito da quentura e da assassina.

E, no meu amanhecer tardio, eis que ela se impõe a mim. Soberana. Desfrutando do geladinho do banheiro, repousando suas asas transparentes no azulejo. Vermelha e gorrrrda (palavra politicamente incorreta), plena da MINHA vida. O meu sangue era que corria ali, naquela minúscula muriçoca, carapanã, pernilongo ou seja lá que nome deem à malévola.

Me aproximei um pouco mais, levantei a mão pronta para matar quem tinha tentado sugar todo meu néctar e....a bandida se foi. Voou para, provavelmente voltar no sábado à noite e me destemperar de novo.

Marisa Lima
Enviado por Marisa Lima em 02/02/2014
Reeditado em 03/02/2014
Código do texto: T4675219
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