O Homem

Marília pensava no amigo que ela tanto prezava. Durante muito tempo não conseguia entendê-lo. Percebia que era uma pessoa educada, gentil e delicada, mas não conseguia enxergar-lhe a alma. Ela sempre teve facilidade para isso, mas havia um enigma que ela não conseguia desvendar.

Um dia, ao conversarem, ele disse uma coisa que realmente a chocou. E ela não era mulher de se chocar com facilidade, pois já vira muita coisa na vida. Mas realmente jamais imaginaria escutar isso de quem quer que fosse, muito menos de seu dileto amigo. Aquilo ficou em sua cabeça por horas a fio. Como poderia um homem daquele quilate ter uma ideia tão dura de si mesmo? O que o cegara para não permitir que percebesse o quanto valia, o quanto era melhor do que muitos outros seres humanos?

A vida nos prega peças a todo instante, mas nada deve nos permitir uma autoimagem tão cruel. O que seria de todos nós se não fosse possível se reerguer e resgatar-nos a nós mesmos à cada porrada da vida?

Mas ela não deixaria que logo ele, amigo tão querido e a quem sempre admirara, continuasse a pensar assim. Não existe nada no mundo que o faça não se visualizar como realmente é, uma pessoa rara.

Marília já vivera tantas coisas, já conhecera tantas pessoas, mas poucas com o potencial de seu amigo, com as características dele, com as inúmeras qualidades do amigo. Não sendo uma pessoa banal e nem comum, jamais poderia ter uma visão tão ruim de si mesmo. Mas ela se conhecia o suficiente para saber que não sossegaria enquanto não o ajudasse a resgatar a autoestima e a claridade sobre si mesmo, enxergando-se como realmente é: um homem de grande valor, que muitas pessoas buscavam encontrar sem jamais conseguir: alguém indescritivelmente rico interiormente.

Meu amigo, meu caríssimo amigo, você é muito mais do que pensa, muito melhor do que imagina. Existem coisas que nos afetam, que nos deixam sequelas, mas jamais ao ponto de impedir que o interior e exterior perfeitos sejam vistos e reconhecidos por nós e pelos que nos cercam.

Marília levantou-se da poltrona ainda mais decidida: vou dar um jeito de fazê-lo se ver como realmente é, e não como ele se julga atualmente. Um diamante de alto quilate jamais poderá se julgar uma zircônia. Ele não é um homem qualquer, é o Homem.

Campos dos Goytacazes, 04 de janeiro de 2014 – 13:09 horas

Emar
Enviado por Emar em 04/02/2014
Reeditado em 04/02/2014
Código do texto: T4677819
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