Bêbado revoltado
Mais uma vez estava eu no ponto de ônibus, desta vez sem chuva nem cachorros. Era fim de tarde e no bar do lado dois homens já haviam excedido na cerveja, o que se notava pelas vozes já pastosas dos dois. Era impossível não ouvir a conversa, quer dizer, retalhos de conversa, pois um assunto entrecortava outro. Um deles, o mais revoltado e menos lúcido, falava mais e tentava convencer o amigo do perigo que representam as mulheres.
__ Olha, você chega em casa depois do trabalho e quer fazer amor com sua patroa. Mas ela não quer. Você não pode insistir, porque é "istrupo"!!
__ É??? mas ela não é sua mulher?
__ É, mas se ela não quiser e você quiser, é "istrupo"!!!
__ Não concordo. Tá errado. A mulher tem obrigação com o marido.
__ Também não concordo. Mas cuidado, se isso acontecer com você, meu amigo, isso é "istrupo"! vai preso!
O amigo balançou a cabeça, desolado, disse alguma coisa incompreensível, pediu mais uma cerveja, os copos enchidos e esvaziados de uma só vez. Agora ele ficou em dúvida:
__ E quando a gente chegar em casa cansado, ela quiser fazer amor e a gente não quiser?
__ Também é "istrupo"!!!
__ Mas não tá certo isso!
__ Certo não tá, mas de todo jeito é "istrupo"! E mais: quanto tempo faz que você não beija sua mulher? Do jeito de quando namoravam?
__ Ora, nem sei mais. Faz um bocado de tempo. Mas casou, não beija mais. Não vai dizer que isso também é "istrupo"???
__ Meu amigo, depois que inventaram essa delegacia de mulher, lei Maria da Penha, tudo que a gente faz ou deixa de fazer virou "istrupo"!!!
__ Então nós tamos nas mãos das mulheres!!! "Istrupando" ou não tamos ferrados!!
Nisso o ônibus chegou e não mais pude ouvir aquela conversa tão interessante. Confesso que, por um momento, tive pena dos dois coitados, ali bebendo e falando de suas mulheres. Com certeza o tema "istrupo" continuaria entre uma cerveja e outra.