A Magia do Papel em Branco

Época de eleição, verdade, mentira e muito papel no chão. Era moleque; não entendia quem ia ganhar, ou o que eles tinham para oferecer; mas o que não faltava era papel e para quem não tinha onde escrever, era só aproveitar o parte branca do panfleto.

Na falta de um caderno para escrever meus contos, minhas histórias, os panfletos eram perfeitos. Quanto maior o panfleto do político, mais espaço eu tinha para escrever, para desenhar, para rabiscar as idéias que formariam o homem que sou. Para a minha sorte, naquela época ninguém havia pensado em colocar a foto do político na frente e no verso do panfleto.

Sim, era um tempo difícil, mas não menos divertido. Minha mãe só tinha dinheiro para comprar os cadernos da escola, os quais ela vistoriava constantemente. Era repressão na certa quando ela percebia qualquer espaço usado para escrever algo que não fosse matéria da escola. – Para quê você escreve tanta bobagem, menino? – dizia ela. Eu não tinha resposta, só sabia que havia uma história para contar.

O problema era que eu não parava de escrever, minha cabeça estava cheia de idéias, cheia de sagas dos meus heróis, personagens que gritavam, imploravam para se tornarem vivos no movimento das letras, no desenho das palavras.

Eu vivia escrevendo em papel de saco de pão, em guardanapo roubado das lanchonetes onde nunca comi uma refeição. Para um garoto pobre com fome de papel, panfletos caindo do céu, dos caminhões e carros, era como se chocolates caíssem dos prédios em dia de São Cosme e São Damião.

Nos dias de hoje, não aguardo mais a época das eleições com tanto entusiasmo, porém, toda vez que vejo panfletos de políticos no chão e entupindo bueiros, lembro desse moleque e fico desejando que houvesse outros garotos escritores por ai, reciclando panfletos e colocando no papel sua visão de mundo, afinal um bom conto, uma história não tem o poder de mudar os rumos de um país, mas se bem narrada, pode fazer todo um povo sorrir e sonhar.