"ESTÃO VENDO ESTA MOCINHA DE VESTIDO ROSA?"

 
O convite chegou-me as mãos por Maria Claudia, uma amiga e neta do respectivo casal Agenor e Maria Rita, que convidavam para suas Bodas de Diamante. Maria Claudia frisou que seus avôs faziam questão de minha presença, fiquei lisonjeada e disse que com certeza me faria presente, pois, não seria sempre que receberia um convite semelhante, raridade uma comemoração de 60 anos de uma união tão bela, e o evento merecia ser prestigiado.  Seu Agenor sempre foi amigo de meu pai e Dona Nina, como era carinhosamente chamada por todos, foi uma boa amiga para minha mãe.                                                           O dia da comemoração foi marcado com uma bonita celebração religiosa, vi Seu Agenor no altar esbanjando elegância e transparecendo nervosismo. Achei encantador ver Dona Nina entrando na igreja conduzida por um casal de bisnetos, vestida com um lindo vestido rosa, achei “bonitinho” a escolha da cor, e só mais tarde soube o porquê daquele rico detalhe. Depois disso, seguimos para um salão onde aconteceria a festa, tudo estava perfeito, o ambiente estava repleto de pessoas, a maioria familiares, entre filhos, netos, bisnetos e até alguns tataranetos. Era visível a alegria estampada no rosto de todos, Seu Agenor e Dona Nina ocupavam uma mesa de destaque, sendo o centro da atenção de todos, não deixavam de retribuir com toda simpatia e carinho a cada um que ali estava. Era mesmo de se admirar tamanha disposição do casal que já passavam dos oitenta anos, observei a boa forma de Seu Agenor e a delicadeza de Dona Nina, uma senhorinha muito meiga, meio franzina, de pele clarinha e lindos olhos azuis. Foi lá pelo meio da festa que Seu Agenor e Dona Nina, subiram ao palco onde estava a banda de música e ele tomou posse do microfone, pedindo a atenção de todos. Em primeiro lugar, fez questão de agradecer a nossa presença, e começou a falar sobre sua vida junto a sua companheira de tantos anos. Contou resumidamente um pouco da convivência, das adversidades e contratempos destes 60 anos de uma união solida que resistiu ao tempo, às tempestades e aos ventos. Quis deixar um bom espaço para contar a todos os presentes, como conheceu sua amada. Contou-nos que tudo aconteceu na estação de trens de sua cidade Natal. Estava Seu Agenor na companhia de um primo e um amigo, quando viu pela primeira vez Dona Nina, descendo do trem acompanhada de uma tia, estava vindo visitar sua avó materna. Ele disse que quando a viu, seu coração disparou e parecia que ia sair pela boca, neste instante cheio de certezas, ele olhou para seus companheiros e disse: “Estão vendo aquela mocinha de vestido rosa? Aquela é a mulher da minha vida!” Um ano depois estavam casados. Enquanto narrava era observado por Dona Nina, que com os olhos cheios d’água segurou ainda mais firme sua mão. Ele seguiu falando que esta certeza, a gente só tem uma vez na vida, e que o coração avisa quando sua “cara metade” chega, aí é preciso segurá-la firme pela mão, e nunca mais soltar, para que possa assim garantir sua felicidade e a felicidade deste alguém. Depois falou das qualidades de Dona Nina, e não poupou elogios e agradecimentos a ela, e finalmente finalizou perguntando a todos: “Estão vendo esta mocinha de vestido rosa? Esta é a mulher da minha vida! Houve uma explosão de aplausos, gritos e assobios. Todos foram tomados pela emoção, percebi que é muito difícil aplaudir e ao mesmo tempo tentar conter as lágrimas. No palco, o celebre e nobre casal abraçou-se longamente, Dona Nina compreendeu naquele instante, porque seu cônjuge pediu para que ela usasse naquela ocasião, um vestido da mesma cor que usava a mais de 60 anos atrás, quando ele a conheceu, e tomada de emoção falou ao microfone um sonoro “Eu te amo”. Delicadamente Seu Agenor beijou as mãos de Dona Nina, depois sua testa e finalmente selou com um intenso beijo na boca. Nunca vou esquecer aquele momento, nunca vou esquecer aquela cena,  aquelas palavras, uma lição de vida, de amor, de cumplicidade plena. Confesso que voltei para casa naquela noite sentindo uma pontinha de inveja deles, mas era uma inveja boa, (se é que isso existe).
 
 
 


 
Rosana de Pádua
Enviado por Rosana de Pádua em 11/02/2014
Reeditado em 11/02/2014
Código do texto: T4686994
Classificação de conteúdo: seguro