AS VÁRIAS LIÇÕES DA VIDA

Faz parte de nossa existência, receber lições. Algumas, tradicionais; outras, nem tanto. Todas, porém, de uma forma ou de outra, irá nos servir para um determinado momento ou período de nossa vida.

E as lições acontecem nos momentos mais inusitados: diria até em momentos em que não estamos preparados ou que não queremos recebê-las.

Recebemos lições de nossos pais, de nossos avôs, dos parentes mais próximos, dos nossos queridos mestres, enfim, recebemos lições que, em nosso íntimo, confundimos com conselhos, apesar de que, em alguns casos, haja uma interpretação quase idêntica do sentido.

Gosto de ouvir e assimilar lições. Elas nos fazem refletir e nos dá um norte para um porto seguro. Lembro das primeiras lições que tomei em minha vida – talvez as mais importantes e as que mais pude assimilar –, pois foram, também, as mais doloridas. Minha querida mestra “Dona Terezinha de Seu Pio” foi à precursora dessas lições.

As lições familiares, tendo à frente a minha genitora – que mais protegem do que ensinam –, mesmo assim foram importantes para o meu aprendizado como ser humano.

Mas tem lição em que a experiência e a prática, substituem a ciência e anos e anos de estudos, e isso ocorre muito com os ensinamentos do homem do campo, limitado em sua visão daquilo que o cerca – de forma macro –, porém um sábio diante do seu universo. Deles temos tido verdadeiras lições de como é possível conviver harmoniosamente com a natureza, inclusive, até como prever se o período de chuvas – para molhar o chão tórrido e seco do nordeste – será de boa precipitação pluviométrica, coisa que os cientistas ainda não conseguiram descobrir com essa antecedência. Isso sim, uma verdadeira lição.

O que seria do ser humano se não fosse às lições recebidas através de sua religião? Quem é do judaísmo, do catolicismo, do protestantismo, têm na Tora e na Bíblia as lições mais importantes para o espírito e, os ensinamentos de Deus, tornam-se preciosos para encaminhá-lo na vida. Assim são, também, os ensinamentos das outras religiões, verdadeiras lições de como se conduzir na vida material.

Lições nos são dadas todos os dias para que meditemos sobre o quanto é importante à doação, a humildade. O sentido de que não somos os únicos sofredores nos é mostrado através do sofrimento do próximo, do desconhecido que bate a nossa porta e nos ensina o tamanho do sofrimento de cada um.

É assim, como diz o ditado, o peso da cruz que carregamos: que não é menor nem maior do que podemos suportar. É a lição dita com o olhar, com a observação, com a limitação, com a reflexão do ver para através do sentir, traduzir e apiedar-se, pedindo perdão por querer ser egoísta até no sofrimento.

Quando recebemos lições, estamos sendo recíprocos quanto a esses valores. Custa-nos a acreditar que, ao darmos ensinamentos para a vida, para o mundo, estamos também, recebendo e adquirindo novas lições de vida. Assim ocorre quando repassamos as lições diárias para nossos pupilos, e é assim, também, quando as lições retornam em forma de aprendizado, o que nos faz reciclar, aprofundar ainda mais o que podemos dar.

Outras vezes, as lições nos são dadas mesmo que não queiramos recebê-las, por acharmos que o momento e as circunstâncias não são favoráveis para uma boa lição. Ledo engano. Outro dia eu vinha passando por uma rua, onde próximo à esquina existe um bar, quando fui chamado pelo nome, através de um grito. Ao voltar-me para ver quem o tinha pronunciado em alto brado, deparei-me com um ex-aluno, hoje um senhor pai de família, que estava no local, saboreando junto com amigos, um aperitivo, talvez fazendo hora para chegar a sua residência.

Notei que o mesmo não estava mais no seu senso normal, o que ficou claro pela quantidade de garrafas em cima da mesa em que ele e seus amigos estavam sentados. É claro que a primeira reação foi a de dizer que estava com pressa, que não podia me “empalhar”, que tinha compromisso e estava atrasado. Por algum motivo não disse nenhuma das hipóteses. Talvez tenha sido o histórico que o credenciava para que eu parasse e o ouvisse, mesmo sabendo que dificilmente iria ouvir algo consistente, interessante ou proveitoso. Mais um ledo engano.

Disse-me ele: professor, o senhor alguma vez se perguntou – quando levantava o tom de voz; quando exigia de nós alunos ou quando irritado apontava a porta e dizia que podia sair quem não quisesse assistir à aula – se aqueles que ali se encontravam, já tinham jantado? Que estavam sem problemas na família? Se o filho estava doente ou não? Se a esposa que estava esperando bebê já tinha tudo providenciado para o parto? O senhor já parou para pensar que não é só o senhor que tem problemas e que a sala de aula é um mundo onde todos carregam suas mazelas?

E por fim ele disse: o senhor já parou para pensar em como a intransigência, a autoridade excessiva, a soberba do poder são barreiras para uma melhor convivência?

Não tive como não agradecer a ele pela bela lição que tinha acabado de me dar: inusitada, fora de contexto e ambiente, totalmente inesperada, mas de uma profundidade reflexiva imensa, que trago até hoje como a lição mais importante para pô-la na sala de conhecimentos.



Obs. Imagem da internet



Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 29/04/2007
Reeditado em 06/02/2012
Código do texto: T468801
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