CRONICA DE UM DIA DE CHUVA
Chovia muito naquele dia . Tudo que eu tinha era esse guarda chuva velho e uma duzia de rosas em mãos que eu tentava manter secas até a casa de Larissa . A gente não se via já fazia um tempo e uma ligação sua me convidando para seu aniversario me surpreendeu . Como fui pego de surpresa não soube bem o que responder e disse sim ! Claro. Amanha estou ai , as oito da noite , tchaw . Então la estava eu , meia hora atrasado enfiando o pé em poças de água e calças molhadas . Sentia frio enquanto tentava compreender o porque daquilo tudo . Frio , chuva , flores ...Quando passei na frente de um bar não exitei , fui logo entrando . Deixei o guarda chuva no lado de fora mas carreguei as flores comigo . Já estavam encharcadas , pareciam que tinham sido lavadas numa maquina . Não conhecia aquele lugar , era cheio de gente feia e aparência de quem já aprontou ou pretende aprontar . Gostei deles , me sentei do lado de um gordão de dois metros e sento e sessenta quilos e pedi uma cerveja . Ele me encarou , depois as rosas . Me mantive firme , olhei bem nos fundos de seus olhos e vi sangue e agonia neles . Vestia uma jaquetona de couro surrada e fedia a mijo e cigarros . O cara do balcão botou a cerveja na minha frente e disse :
- Calma , calminha ai , Boris . Ele é fregues , tá legal . Fica quieto e come seu bife .
O homem descomunal obedeceu , mas não antes de dar uma rosnada , dai o cara do balcão que media um metro e setenta e era magro como um louva deus simplesmente lhe deu um bofetão na cara .
- Fique tranquilo , ele não vai te morder .
- Não vai me morder ?
- Ele toma conta do lugar , não se preocupe . O mantenho em regias curtas .
- Estou vendo .
- Sabe , dei sorte . Consegui esse ai por um bom preço .
- E onde se consegue um desses ?
- O pessoal da casa de loucos . O governo diminuiu a receita então estão vendendo algum deles . Como esse ai não é nenhuma jovem bem jeitosa eles quase me deram de graça . Boto ele para cuidar do lugar e o alimento com bifes e soda .
- Jesus ! E não tem problemas , digo , com a justiça ?
- Que nada .
- E se eles abrirem o bico ?
- São loucos , são todos loucos , quem lhes daria ouvidos ? Mas em todo o caso a melhor coisa a fazer e cortar suas línguas . Mostre a ele Boris .
Boris obedientemente abriu a boca , havia carne macerada e dentes podres , mas faltava algo ,em meio aquele caos falta sua língua .
- Não é incrível . Se quiser nem precisa anestesiar , eles aguentam firme .
Terminei minha cerveja sem pressa . O homem continuou falando e eu fingindo que estava escutando . Não sei se era verdade ou não o que me disse , mas me deu o telefone de um dos vendedores . Segundo ele , por poucos milhares eu conseguiria uma jovem louca com boa aparência .
- Você passa aqui e eu corto a língua dela para você . Já os dentes , conheço um dentista muito bom . Te da até uma dentadura de borracha e tudo mais ! .
- Escuta aqui- disse a ele , me levantando – quanto lhe devo?
Ele me mediu , olhou o buque em minhas mãos e sorriu .
- Vai presentear sua garota hoje ?
- Minha garota ?
- Essa e por conta da casa . Mas me ligue quando for cortar a língua dela , ok !
Enfiei o cartão no bolso e fui embora . Devia haver uns vinte malandros naquele lugar e por alguma razão nenhum deles me encarou , a não ser o Boris . A chuva continuava a cair , sem trégua , sem pena ou dó . O relógio da farmácia dizia que eu estava cinquenta minutos atrasado para o aniversario . Com o guarda chuva e as rosas em mãos continuei , cruzei com o mercado , com a padaria e a adega .Em todo lugar pessoas se abrigavam em toldos fugindo da chuva enquanto eu nadava a braçadas corajosas no diluvio . Quando o sino anunciou nove horas minha roupa já estava toda encharcada , uma duzia de pétalas resistiam presas aos galhos e nenhum cigarro se mantinha aceso , e deus sabe que precisava de um . Encontrei um ponto de ônibus vazio , apenas um cão das ruas dormia sob o banco de cimento .
- E ai , companheiro .
Disse eu , acariciando a seu pelo marrom molhado . Ali fumei um cigarro sem pressa , carros passavam levantando cortinas de água , o farol já não funcionava , o bueiro transbordava e minhas rosas eram só galhos . Já não estava mais tao afim de ir a festa , que se foda Larissa . Foi ai então que esse carro velho cor de abacate parou , de vidros pretos e musica alta - musica ruim alta . O vidro abriu um pouco e uma voz saiu la de dentro .
- Tem compromisso pra hoje , gatão .
- Vai se ferrar .
O vidro baixou mais e dentro e vi o rosto de Carlos . Tinha os olhos vermelhos de louco .
- Puta que pariu , cara , fui até sua casa e não te encontrei la. Larissa me fez dar essa pernada toda e você não estava lá .
Sobre o ombro de Carlos esse rosto moreno de olhos azuis surgiram .
- Hey , entra no carro logo . O que tá fazendo com esses galhos na mão ?
Era Larissa , dava para sentir o perfume dela da onde eu estava .
- Eu vou , mas ele vai junto .
Falei .
- Quem ?
Perguntou Carlos .
- Não tem ninguém ai …
- O cachorro , ele vem junto comigo .
Afanhei a cabeça do bicho . Era um cachorro pequeno e carismático .
- Uma ova que esse bicho entra no meu carro , Oliver .
Disse Carlo .
- Então eu fico .
Larissa e Carlo tiveram um pequeno debate até que a porta de trás abriu .
- Entra logo , Oliver , antes que Carlo mude de ideia .Mas se esse pulgueiro traçar minha puro sangue ele vai pra rua .
Levei o cachorro e deixei as rosas , ou o que restou delas , e sobre os gravetos o cartão com o telefone do vendedor de jovens loucas .
13/02/2014
10h47m
Dica de filme : Historias de Nova York ( 1989 )
Destaque para primeira historia dirigida por
Martin Scorsese .
Direção : Scorsese
Coppola
Wood Allen
Nota : 9 graças a Scorsese