Cadernos de um Sociopata

Era uma bebida vermelha com saque e morango . Um copo grande para dois ; nas telas suspensas espalhadas pelo ambiente música e imagens , um dos garçons tinha o rosto familiar , agia como um conhecido fazendo piadinhas e dando tapinhas nas minhas costas toda vez que passava carregando uma bandeja com copos e porções fritas . Luminárias japonesas davam o ar oriental ao bar feito em madeira enquanto as mesas com propagandas de bebidas nos traziam de volta a realidade . Paguei uma fortuna para entrar e encontrar pessoas que vejo na rua dirigindo seus carros saindo do trabalho apressadas com roupa de escritório e botas de borracha . A luz , amarelada por causa das luminárias orientais , chocavam-se com meu corpo me jogando no chão em forma de sombra . Mas não estava nem ai , naquele momento tudo parecia perfeito , o começo de um relacionamento onde ambos ainda estão se conhecendo e aprendendo as reações uma da outra e rindo das manias . Tudo aconteceu antes dela querer mais espaço e numa discussão idiota dizer :

- O único momento que tenho para mim é no banheiro do escritório , quando me sento e meus pensamentos se confundem com o cheiro da merda …

Muito dramática , sempre foi dramática , eis um de seus pequenos defeitos que sempre gostei , porque para mim não eram defeitos mas virtudes transvestidas de defeitos . Tão falsas como suas atitudes , mentindo para si mesma e chorando quando deveria rir . Quando a bebida secou restaram os morangos que cacei com o canudinho e levei a sua boca . Aquelas coisas empapadas em álcool escorregavam , deslizavam no fundo do copo fugindo do canudo plástico branco e vermelho .

Espeto um .

- Mais um , amigo ?

Pergunta o simpático amigo garçom de rosto que não me é estranho mas que não me lembro de onde conheço .

- Não .

Eu digo . Não tenho dinheiro ou tenho muito pouco . Já nem sei se o que tenho paga a comanda ou sobra algo para o flanelinha . Então imagino , se o desgraçado riscar meu carro enfio a chave de roda pelo seu rabo e tiro pelo nariz .

- Porque não pedimos um Bloody mary , me disseram que a preparam muito bem aqui .

Porque não , amor , não importa se no final das contas o cartão for recusado , porque sempre posso oferecer meu gloriosos rabo para pagar a divida . Beba o que quiser , coma iscas de peixe e camarão frito . Tenho certeza de que posso escrever uma linda historia sobre isso . Todos querem saber como o caixa me penetrou , como o artista das facas abriu caminho pelo meu orifício anal sem problemas , do orgasmo do cozinheiro quando me fez sentar sobre sua piça em quanto cortava as cebolas . Todos querem saber das coisas que eu fiz por você , das coisas que nunca fez comigo , peça a maldita bebida de tomates . Tenho certeza que posso escrever uma linda historia deitado de bruços .

- Tudo bem . Bloody Mary , você vai gostar .

E uma noite perfeita , fria , os bicos dos peitos da loira a minha frente estão duros e ela não usa sutiã debaixo da blusa de seda branca , roupa de ano novo no inverno . E dai? Nunca fui fã de moda . Um casal , um casal de boa aparência : ele veste couro e ela ...bem , não sei o que veste , mas parece caro e desconfortável . Anda equilibrada sobre vinte centímetros de salto , finos como canetas esferográficas . Suas panturrilhas morenas estão enrijecidas e a bunda firme . O vestido preto lhe cai sobre as almofadas e imagino o cara de couro chafurdando a procura de seu anus depilado e suado .

- Não quer um pouco , amor .

- E como …

Digo , respondo a minha querida , meu amor , pensando no cheiro que teria aquela gloriosa válvula de escape morena .

- Então beba logo . Esta muito bom . Você vai ter que dirigir porque estou ficando bêbada .

A chave de roda , esqueci a maldita chave de roda …

- Mais alguma coisa , amigo ?

- A conta , me traz a conta .

14/02/2014

13h45m

Cleber Inacio
Enviado por Cleber Inacio em 14/02/2014
Código do texto: T4691012
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.