Quem desdenha quer comprar



Lá estava eu no ponto de ônibus, cansada, suada e para piorar, o tempo anunciava um temporal que estava por vir, não via a hora de chegar em casa e me desfazer daquelas sacolas pesadas presas ao meu braço, tomar um banho, botar minha roupa de dormir e me largar no sofá e dali não sair nunca mais.
De repente ouço uma mulher ao meu lado dizer para a amiga:
- Menina, nem te conto!- rapidamente me atentei ao assunto, parecia interessantíssimo. - havia no tom daquela voz um entusiasmo surpreendente! – então continuou ela...
- Imagine você menina! - Ontem beijei aquele gato lindo lá da feira da banca de peixe! – Aquele que você me disse que era gay, só por que usa cabelos compridos, você se lembra?
- olhei para o lado e as avistei, a que falava, tinha quase dois metros de altura, magra como um poste. Os cabelos esvoaçados tingidos de loiro já estavam desbotados, pequenos olhos borrados de azul quase um sobre o outro pareciam estar sempre em sentinela. A boca enorme borrada de vermelho deixava a mostra os enormes dentes que pareciam querer pular daquela boca que falava sem parar. Uma aparência medonha que me causou de imediato risos involuntários. – a outra totalmente oposta, baixinha e gorda feita um tonel, cabelos pretos e de pele escura. O batom vermelho intenso salientava a pequena boca de lábios finíssimos, que mais pareciam dois gomos de mexerica amolecidos pelo sol quente. – de olhos grandes e arregalados a baixinha responde:
- Credo! – Não acredito que você teve coragem de beijar aquilo! – Que nojo! – Você olhou bem dentro da boca dele antes de beijá-lo? – de imediato olhei para o rosto daquela baixinha e larguei um sorriso meio que disfarçado. – enquanto continuava ela:
– Notou que ele usa dentes móveis? – E a língua dele? – Minha nossa! – É mais peluda que buxo de bode virado ao avesso! – nesse momento eu não me contive soltei uma gargalhada, envergonhada tentei disfarçar, olhei para o outro lado, e vi que outras pessoas também estavam rindo. - e a baixinha continuava:
– Ali devem estar todas as bactérias do mundo, você ficou louca mesmo, só pode ser! – E o gosto? – Minha nossa! - Tem gosto de peixe cru e fede como a banca dele! – Você sabia que ele come os peixes crus quando está com fome? – Mão de vaca, isso sim! – Nem para enfiar aquelas mãos fedorentas no bolso para comprar um pastelzinho durante a feira! – nesse ponto da conversa ninguém mais se continha, todos riam e as observavam fazendo comentários uns aos outros, a agitação tomou conta de todos. – olhei para o rosto da loira tingida e logo a ouvi dizer:
- Que isso menina?
– Como você sabe disso tudo?
- Por acaso você andou beijando ele também, foi!? 



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Marta Rodriguez
Enviado por Marta Rodriguez em 02/05/2007
Reeditado em 24/12/2010
Código do texto: T471643