A POLÍTICA DA POLÍTICA

- Uma esmola, pelo amor de Deus.

- Meu senhor, o senhor é saudável e jovem. Em vez de pedir esmola, por que não vai trabalhar?

- Estou lhe pedindo esmola e não conselho.

Essa pequena história me remete ao que forçosamente venho compreendendo como Política no Brasil. É duro aceitar, afinal, ainda há em mim o sentimento fraternal pela humanidade. Entretanto vejo, com pesar, que o significado de política tem cada vez mais a ver com ‘falar o que querem ouvir’, ‘ouvir o que os outros tem a falar e fim’. No final, todos reclamam, ninguém propõe solução e ninguém age. Mas também ninguém ‘se queima’ perante os olhos alheios. E é fim de semana, não vamos pensar mais nisso.

Fica a proposta de entrada para o termo ‘política’ no dicionário!

No Brasil, observo, o ente político não é o mais democrático, nem o que perde noites defendendo uma solução visando um bem comum. O nome disso é pai e mãe. Político é, talvez, aquele que mais habilmente se omite. Aquele que constrói estradas com dentaduras. Aquele que escuta as agruras alheias pensando no que vai comer no almoço e emenda o final da frase do povo com um ‘entendo’- seja lá o que o povo tenha dito.

A política da política é escutar com empatia - seja ela falsa ou verdadeira. Já muito cedo na história, o político percebeu que propor soluções e lutar com convicção para suas implementações visando o bem social não dá status.É démodé. Que o diga cada pedaço do revolucionário Tiradentes pelos quatro cantos de Minas Gerais. Que o digam os professores, que tiram dinheiro do bolso pra fazer uma aula inovadora na esperança de que o ser humano possa mudar ( pra melhor).

- Ser político não é isso, imbecil! Devem bradar internamente, frustrados, os que denunciam. E mais frustrados ainda os que tentam corrigir os erros pra que, em um futuro que talvez nem vejam, pessoas que nem conhecem possam ter mais estabilidade nos seus caminhos.

Ora, pra quê todo esse trabalho, quando se pode só escutar, se omitir e descansar com os seus numa ilha caribeña no final de semana?Desnecessário! Pra quê melhorar escola, se meu filho estuda numa instituição privada? Pra quê segurança pública, se o vidro do meu carro é blindado?

O povo (mas o povo também, hein...!) não quer solução: quer reclamar. E política não é propor que gente seja tratada feito gente. É dar ouvidos, dar esmola, dar bolsa, e finalmente, dar as costas.

Começo a entender. Ser um bom político deve ser escutar sem se afetar. Deve ser ver que o ser humano dispõe de potencial pra resolver problemas, mas não alimentar tal virtude. Apenas ser condescendente com os erros, tratando a todos como se fossem coitadinhos limitados, incapazes de ver que a situação política se repete.

Sendo essa então a política da política, espero que minha política seja cada vez menos política.

Nem conselho, nem esmola: autoestima para o povo, ação para os governantes.

Juliana Santiago
Enviado por Juliana Santiago em 07/03/2014
Código do texto: T4718827
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