HAPPY HOUR NO HOSPÍCIO

Havia terminado as entregas quando resolvi entrar em uma loja de conveniências e degustar(sic) uma cerveja sem álcool só para fazer uma reflexão do dia. Já passavam das 18:00hs. O posto, bem localizado, tinha uma loja cheia de cores na diversidade dos produtos. Duas mesas bem no canto – próximas ao caixa - com quatro cadeiras pareciam ponto de encontro dos vizinhos. A conversa já rolava solta entre três pessoas que eu não conhecia. Após um breve cumprimento me dirigi a geladeira, servi-me e sentei - aguçando os ouvidos para identificar a música antiga que estava rolando no som ambiente. O senhor que puxava animado a conversa ao lado tentando ser simpático falou alguma coisa comigo. Murmurei algo e fiquei apenas com o corpo presente. Estava viajando no tempo com aquela canção.

Minha viagem no tempo não durou muito, pois outra pessoa que acabara de entrar se dirigiu até onde nós estávamos e falou algo sem nexo, chamando a atenção dos presentes. Após alguns minutos do monólogo daquele cidadão, percebemos que o mesmo não “girava muito bem do juízo”. Havia um parafuso solto naquela cabeça. Resolvi pegar outra cerveja um pouco chateado, o sujeito havia sentado do meu lado falando abobrinhas. Putz... Foi o jeito pegar a mochila, pagar a conta e ir para casa.

Na manhã seguinte atendi alguns clientes e como era sábado, lá pelo meio-dia antes de retornar, resolvi passar na lojinha novamente. O papo estava animado na mesa do fundão. Peguei logo a gelada e para entrar na conversa não demorou. Na terceira cerveja uma senhora abriu a porta, entrou e com o olhar fixo se encaminhou até onde nós estávamos. Paramos repentinamente o assunto quando ela tascou essa:

- Estão de segredinhos, é? Ninguém entendeu nada.

- Qual era o assunto? Insistiu a senhora.

Relevamos os questionamentos ao percebermos que naquele olhar perdido os neurônios não entravam em acordo fazia tempo. O pior, ela, tal e qual o sujeito da noite anterior sentou ao meu lado. Deu vontade de me beliscar para ver se era verdade. Dois malucos no mesmo local. Lembrei da história do raio que não cai no mesmo lugar. Ignorei a criatura e logo retornei à resenha com os novos colegas. Depois de alguns minutos, outra pessoa, um senhor idoso se dirigiu ao nosso local e começou a falar alto. Me perguntei se havia algum manicômio na vizinhança. Levantei-me e ofereci a cadeira para o cidadão. Ele e a tal senhora parece que se entenderam, pois começaram a conversar sabe-se lá o quê.

Me despedi dos "colegas de bar" e saí do estabelecimento.

No próximo happy hour vou preparado, levando uma boa chave de fenda e uns parafusos. Quem sabe consigo ficar em paz.