Sammhyra foi aplaudida na rua!

Todos os pais que têm filhas acima dos sete anos, e até já formadas, casadas ou mães, um dia tiveram uma filha de seis anos. A diferença deles para mim, é que eu ainda aos sessenta anos tenho uma filha com dez por cento da minha idade, e há quem afirme que danada me puxou cem por cento. Ai eu fico a observá-la e acabo por me perguntar. Será que sou tão objetivo como a minha filha Sammhyra?

Eu e minha amada esposa Altenir ainda nem havíamos pensado na festa do primeiro aniversário Sammhyra, fomos surpreendidos com a nossa pequena quebrando a grade seu berço a pontapés e solavancos, e de lá saindo andando livre, ela que havia menos de um mês que aprenderá a andar só. Pareceu-me que o senso de liberdade e protesto nela foi prematuramente aguçado, a ponto não mais se conformar em apenas chorar e esticar os braços.

Procuro educa-la sem lhe tirar a personalidade, só reclamo dela algo realmente grave. Com isso tenho tido a felicidade de vê-la honesta, me contanto tudo, mas tudo mesmo que acontece na vida dela, no lar, na escola e na rua. Podem até dizer que é um “pecado”, mas ela freqüenta a escola em hoje está na primeira série, já lendo alguma coisa e escrevendo outras, desde os dois anos e quatro meses, e tem um gosto em ir às aulas que às cinco e meia da manhã já está acorda para um banho frio e se arrumar para esperar o ônibus escolar, que passa as seis, sendo a primeira a ser recolhida.

Mas o que me surpreende na minha filha de seis aninhos, e podem me chamar de “papai coruja”, é que ela não traz desaforo para casa (há o lado negativo, mas há o lado bom), como aconteceu certo dia em que alguns meninos da sua faixa etária a cercaram na praça, e um deles começou fazer aqueles gestos de karatê, com aqueles gritos peculiares conhecidos como “kiai”, que levam o praticante a aumentar a intensidade do golpe. Pois bem, enquanto o menino gesticulava e gritava, Sammhyra mantinha-se estática, até que resolveu reagir, deu um soco no menino, e lá foi o mine karatéca para a lona!

No entanto o que aconteceu num domingo destes, me fez rir, ficar feliz e saber que minha filha se parece comigo, que tem visão do respeito às leis e da responsabilidade que cada cidadão deve ter: Longe de mim, e tendo por companhia a irmã de dez anos Sammhyra foi até uma esquina apreciar a passagem de uma cavalgada, ocasião em que uma senhora na direção de um carro, subiu uma rua na contramão e parou justamente ao lado da menina.

A menina olhou sério para a infratora e não poupou: “A senhora não viu duas placas de contramão lá embaixo, a senhora podia ter atropelado alguém”, a motorista achando graça, pois a menina além de pouca idade ainda é baixinha, se justificou: “Eu também sou da cavalgada”. Piorou! Sammhyra emendou: “Já que é desse desfile dos cavalos, quando acabar isso ai, a senhora pega vassoura e varre todo esta coco que está sujando a rua”. Nunca pensei que haveria quem aplaudisse a minha desaforada menina!

***********************************

(*) Seu Pedro é Pedro Diedrichs, as vésperas dos 60 anos é o editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia, e pai da menina Sammhyra de 06 anos. Conhecido como jornalista polêmico, mas sincero!