Imensidão

Carla esperou a semana toda aquele encontro. Ela imaginou mil coisas. Um jantar a luz de velas ao som de violinos... E um suspiro. Um piquenique no campo regado a vinho... E um suspiro. Um pedido de casamento surpresa com um lindo anel de brilhantes... E mais um suspiro. A cada pensamento Carla soltava um suspiro mais fundo, como se saísse de sua própria alma todo aquele desejo.

Naquele sábado os minutos se tornaram séculos. E a espera era uma tormenta. Amanheceu e ela já queria loucamente que o sol já tivesse se posto e a lua estivesse no céu. Acordou com raiva porque era dia. Não queria mais esperar, então tentou de se distrair pensando em que vestir. Mas aí surgiu o problema ela não sabia onde Fábio a levaria. E o que vestir? Um longo? Não... Algo básico? Não... E naquela desespero pra ocupar o tempo surge o desespero de não saber o que vestir.

E o guarda-roupa todo foi pro chão, pra cama, pro criado mudo. E nada servia. Tudo era antigo ou a fazia parecer gorda. A única solução era fazer compras... Mas aí teria que mexer em suas economias. Ela pensou e pensou e viu que mexer na poupança seria a solução. Claro! Ela sabia que daquele encontro tão especial sua vida mudaria então tinha que estar preparada. Tinha que estar linda... E olhando no espelho surgiu outro desespero... O cabelo!

Pensava no encontro... Um suspiro. Pensava nas roupas... Um suspiro. Pensava no cabelo... Outro suspiro. Mas não eram mais suspiros de desejo ou esperança eram suspiros de desespero mesmo. E o que fazer? Saiu correndo foi ao caixa eletrônico ao mesmo tempo que sacava o dinheiro implorava pelo celular para a sua amiga cabeleireira a atender.

Carla então conseguiu o que queria fez com que a noite chegasse rápida. Ela ficou tão desesperada com a roupa, o cabelo, depois as unhas, a maquiagem... Que quando viu já era hora do encontro. Ela abriu a porta e quando viu Fábio jogou o cabelo escovado pra traz como em uma propaganda de shampoo. Abriu o sorriso e ao ver o namorado em uma camisa xadrez tão justa quanto o próprio jeans que ele usava. Carla mordeu o lábio de desejo. Os contornos do corpo de Fábio eram perfeitos, tentadores. Ela adorava quando ele se vestia assim... Tão apertadinho.

Pra variar ele não falou nada em relação ao seu cabelo, ao seu vestido preto ( ela não quis errar e apelou para o básico) ele não falou nada a não ser : " Cê tá muito gata!" . Se fosse outro dia ela iria brigar mas hoje não. Seu coração a mil esperava por algo especial.

Eles entraram no carro e Fábio a levou para o mirante. Lá dava pra ver a cidade toda. Era uma imensidão de luzes e ao mesmo tempo uma imensidão de estrelas. Carla suspira... E pensava " Hoje ele me pede em casamento." Ela ia reclamar que o namorado nem uma música romântica tinha colocado no som, mas se lembrou que estava quebrado... E daí? Hoje a música não ia ser importante, o que importava eram as palavras que ele ia dizer. Então ele a soltou dos braços e ficou parado olhando a imensidão de luzes da cidade e do céu. E virou-se pra ela com um olhar sorrindo. O coração de Carla disparou.

- Sabe Carla... Olhe essa imensidão. É tanta luzinha piscando no cidade, tanta luzinha no céu.

Ela suspirou. E ele continuou.

- Pensando aqui essa imensidão é do tamanho ...

Ela suspirou e sorriu e continuou a ouvir com o coração disparado e ele continuou a falar...

- Do tamanho da minha fome...