O “bom moço”

Dois gigantes andavam com muita pressa rumo à catraca do Metrô Ana Rosa. O menor tinha mais de 1,85 com certeza. O primeiro passa rapidamente pela catraca (Bí-Bíp!). Nem olhou para trás. Era um moreno corpulento, careca, com uma camiseta roxa e dourada – ainda mais larga que ele – e bermuda. Quando percebe que está sozinho, olha para trás.

O colega, negro alto com cabelo tipo dread até o meio das costas e camiseta vermelha tenta passar o bilhete. “Erro na Leitura”. Tenta uma, duas, três. “Erro na Leitura”. Na quarta ele bate o bilhete com tanta força que todos olham. Ele está bufando!

Então ele se vira para ir carregar o bilhete com raiva.

Mas ela o segura pelo punho.

Uma senhora com seus 50-60 anos, no máximo. Vestida com o uniforme azul do Metrô, olhos claros e tristes (entre o azul e verde); não parece ter mais de 1,5 metros e cabelos desleixadamente louros e enrolados.

— Calma, é tudo uma questão de distância – ela precisa usar as duas mãozinhas para abrir a mão do gigante e pegar o bilhete. — É só aproximar bem e esperar um pouco.

Bí-Bíp!

Então a mulher fica entre os gigantes, a visão é até engraçada. Parece que podem esmagá-la a qualquer momento. Mas o gigante agora era ela.

O colega que passara primeiro ri e diz à senhora, com galhofa:

— Relaxa, moça! O cara já é pobre, sem dinheiro...

Antes que ele termine, ela dá um risinho, e um tapinha na nádega direita do negro dos dreads; e diz ao outro:

— Mas ele é um bom moço... não é...? – diz com ternura olhando para cima aquele homem sem reação por ter sido “atingido”.

O amigo ri mais uma vez. E ela dá um segundo tapinha:

— É um bom moço, sim...

Eles então vão embora para o metrô. Ela volta para a catraca, sorrindo.