Ah! Se eu encontrar, te esfrego na cara!

Ah! Se eu encontrar, te esfrego na cara!

Para terminar a aventura da viagem a Vancouver, perdi as passagens em Toronto, Toronto-SP, SP-BH. Estavam no bolso da camisa, achei estranho ter colocado aquilo naquele lugar, mas deixei assim mesmo. Ao viajar, entusiasmado, comprei uma mochila multi-aberturas, apenas sete zíper, ou zíperes? E mais uma bolsa aberta. Assim que o avião pousou em Toronto, às 21h55min com saída para São Paulo às 22h55min procurei pelas passagens e não estavam: perdi-as! Não, têm de estar comigo, mas onde? O jeito é procurar e procurei, procurei. Na mochila. Primeiro enfiei a mão em cada abertura, palpando, a mão nadou no vazio do que procurava, um documento dobradinho para envelope ofício, o tato o reconheceria de imediato. Nada. Como frequentara a toalete – se tivesse caído do bolso lá, logo logo teria recebido de volta. Fui e nada, como esperado. Lembrei então do “ah! Se eu encontrar!”, então, abri as gavetas da mochila, uma a uma e fiz uma vistoria com as mãos e com os olhos. Nada, em nenhum dos zíper-zíperes. O tempo ardia, tenho de correr, pois ainda tenho de procurar as malas. Fui informado em Belo Horizonte que as malas iriam de Vancouver a BH, mas o comandante inventou de comunicar que deveríamos pegar as malas em Toronto! Pronto! Pegar as malas lanchar e embarcar, era o plano. Mas e as passagens? Apressado esvaziei cada uma das gavetas da mochila, ali na poltrona – troca de camisas, pacote de biscoitos, uma maçã, uma maçã?, o seguro de saúde, o voucher do hotel, que podia ter sido jogado fora, mas se nunca mais tiver oportunidade de viajar para fora do país, serviria de prova, u í, í de í mesmo já fui sim, aqui, ó! Mas nada de encontrar. O tempo urge. Conversei com uma aeromoça, ou moça aérea de tão branca, diáfana, sei lá, mas obtive a informação, se foi só a passagem, o agente emite outra. Está com o passaporte? Sim, sim. O agente emite outra, dont uórri. O Agente? Seria o agente da Air Canadá, por serto, mas tudo funciona diferente da gente, sem erros, nada pode dar errado, e outros agentes estão de olho. Estou com cara de perdido? Fácies de em apuros? Estou quase correndo à procura do agente da viação aérea, e fui parado. Problem, sir? Se não responder as coisas podem ficar pior. Ai eme losti, ai eme going to Brazil. Oh, go to customer, vire para cima, dobre para baixo, quebre à esquerda, o terceiro guichet. Tânquis. Ok, cheguei. Outro agente (ou outra agenta?) Iu nid a relpi, sêr? Ai dont spic Ingliche veri uel. Ai eme going to Brasil. Então fala em português, ok? O que está fazendo no Customer? Expliquei a outra pessoa que me mandou cá... Tem nada a ver, é balcão da Air Canadá. Uér? Ela mesma me levou ao guichet e providenciou as novas passagens, quando aliviado passo os olhos ao redor e vejo estar do lado do guichet da Customer. Consegui as novas passagens. Perguntar pelas malas, fui informado que iriam direto para Belo Horizonte, mas, cadê a agente que fala português? Sumiu da forma como apareceu. Então, em direção ao agente da Air Canadá, my baggage, sir, ai môst claim my baggage rier or in BHTE? Plis, to costumer, plis. Já me acostumando, voltei ao Costumer. Olhei para a fila, enooooooorme. 22:25, o outro vôo, não este, de idéias, o que leva esta anta, levanta às 22:55 hs, nem dei a sorte de que atrasasse um tiquinho que fosse. Vi um agente lá longe, e me pus a furar fila, passando por debaixo da faixa de isolamento. Reclamaram, uma girafa magrela, pra lá de Bagdá na idade, me encarou, quase me segurou com o olhar, falando o que para mim eram glossolalias, palavras sem sentido. Sóry, ai eme losti, sóry e fui falando e furando fila, sóry ai eme losti. Mostrei a passagem ao agente. He said: go to up, pass two dórs, go to the right, see the screen, luk for the gate. Ai sad: ai dont spic English very well, and my flait is 22:55. Well, it is big problem! Come with me. Mostrou a ficha que eu devia preencher, ao chegar havia preenchido a mesma ficha, informações alfandegárias. Este agente me ajudou-me a mim a sair da enrascada. Explicou a situação ao agente federal. Este deve ser bem brasileiro, ficou discutindo com o “meu” agente que eu estava no lugar errado e tititi tatatá. “Meu agente” explicou tudo de novo, frisando a hora do vôo. O agente federal ensinou a ele como deveria ter procedido, e o tempo correndo, e ele olhando meu passaporte, então pôs fim a seus rabiscos no papel e me liberou. Dali fui correndo em busca do gate 80, porta de saída para entrada no avião, em cima da hora. Nada de lanche e antes de tomar assento meu bebê estomacal berrava bué, bué, bué, o defeito da reeducação alimentar, de três em três horas dá sinal e se não tem as fraldas trocadas abre o berreiro. Fome danada! Ainda bem que tenho uma maçã. Abro da mochila o compartimento macieiro, um bolso ziperado bem escondidinho, quase secreto, e eis o que encontro junto com a maçã: as passagens perdidas!

Quem nunca passou por isto: procurou direito? Sim, e não achei! Eu vou aí, e se encontrar te esfrego na cara!

Gilberto Profeta
Enviado por Gilberto Profeta em 22/03/2014
Código do texto: T4739182
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