Os Três Eremitas

Trata-se de um conto de espiritualidade, onde o autor, Tolstói, coloca sua genialidade a favor de uma questão de significativa importância para as religiões, para os religiosos e, por que não, também para os não religiosos?

Eis que a leitura do texto nos trás claramente a idéia da fé exercida sem preconceitos, limpa, pura na sua essência, mostrando as nuances que interligam o exercício da prece colocando os polissistemas material e espiritual em perfeita sintonia.

Ficam de lado questões dogmáticas criadas pela Igreja nas tentativas de formalizar a fé, que, assim, passa a ser instrumento burocrático e sob sua direção, trazendo-lhe os benefícios materiais, hierárquicos, sociais e culturais, porém, colocando o homem, o indivíduo, como insignificante ser – de qualidade inferior, - pois para que possa entrar em contato com o Creador necessita de um sacerdote, um pastor ou um padre, que se constitui em seu intermediário junto a Deus. Não é um disparate, visto sob o ponto de vista espírita?

O conto mostra essa questão com extremada sabedoria. O Bispo, provavelmente um ortodoxo, em que pese toda a sua boa vontade religiosa, representa a religião, cuja doutrina é revelada e datada, portanto construída e não constituída.

A prece que os humildes eremitas faziam era do fundo dos seus corações e baseada no recíproco amor que enternecia suas vidas; nada de formal, de decorado, de falsa intelectualidade, mas, sim, de simplicidade, humildade, o que fazia da prece um grande exercício de amor que, sem dúvida, elevava-os a categoria de seres especiais, permitindo o acesso imediato ao Ser Inteligente do Universo.

A partir do momento no qual o Bispo tentou “ensiná-los” a orar, perdeu-se a anjelitude da prece e, ao esquecerem de um simples vocábulo, a fé natural, que antes mantinham, passava a correr sério risco de se perder, pois, dependeriam, sempre, do Bispo para continuar lhes ensinando.

Felizmente, o tal Bispo, teve o lampejo necessário para aconselhá-los a continuar orando como sabiam, o que, certamente, continuaria alimentando aquela poderosa fé que os três eremitas viviam.

TOLSTÓI, L. Onde existe amor, Deus aí está - Os três eremitas, SÃO PAULO: Verus, 2001, p.41-54.

Comentário apresentado à Disciplina A Mediunidade, Produto Mediúnico e o Social, 7° Período, do Curso de Teologia Espírita, da Faculdade Dr. Leocádio José Correia. Autor: Alvino Bonati Chiaramonti

Professora: Denise Sbalchiero

Alvino Chiaramonti
Enviado por Alvino Chiaramonti em 03/05/2007
Código do texto: T474043