A adorável gerontolescência - Um sentido para a vida do idoso

Pois é. Ficar velho também tem suas vantagens. Ontem descobri, assim meio que sem querer, um novo sentido de vida.

Para que vocês possam entender o que estou falando, devo esclarecer que toda a minha vida fui um homem muito sério, comprometido com as coisas da família, da comunidade, com a moral e os bons costumes. Para ser exato, nos sessenta anos da minha vida fiz tudo que se espera de um bom rapaz na adolescência, de um jovem adulto no início da minha carreira, de um marido e depois de um pai. Enquanto isso, os meus desejos mais íntimos foram sendo enterrados um a um só para manter a minha fama de bom.

Pois é. De repente me descobri um idoso, querido por alguns, respeitado por muitos, amado pela família e um monte de pecados não cometidos mas desejados. Minha memória não é suficientemente aguçada para saber quantas oportunidades perdi de desfrutar das delícias de um sexo irresponsável nem de lembrar de todas as canalhices que desejei cometer e tive que frear.

Pois é. Hoje, com todos os filhos criados e encaminhados na vida, me descobri livre, leve e solto. Vou sair por aí, caçando, pescando e principalmente falando. Vou cuspir todos os sapos que engoli na vida. Manter as aparências pra quê. Nunca fui santo, apesar de ter me comportado como se fosse. Meu comportamento exemplar foi a custa de muito sacrifício e resignação.

Pois é. Agora que estou na contagem regressiva, que tenho pouco tempo embora não saiba quanto, já não tenho mais medo do futuro. Vou fazer de tudo um pouco enquanto minha saúde permitir.

Ah, essa sensação de liberdade, da mais pura irresponsabilidade está me dando um novo ânimo na minha vida. Afinal, há muita coisa no mundo pra desfrutar e o meu tempo é curto. Esse novo status que se chama gerontolescência é maravilhoso. Que custe o que custar e dure enquanto durar.