Somos poeira ao vento

Hoje, uma irmã do meu pai ligou para comunicar que meu tio, irmão mais novo do meu pai e que, há alguns anos, tem lutado contra um agressivo câncer do estômago, foi entubado, entrou na morfina, está com uma bactéria no coração e os médicos deram a ele quarenta e oito horas de vida. Calada, escutei tudo e fiquei pensando na música Dust in the wind, na qual, traduzindo a parte da letra que considero mais bonita, digo : "Tudo o que somos é poeira ao vento." Sim, isso é tudo que nós somos, apenas poeira. A vida é como uma pequena chama que um mero sopro apaga e nós, quase sempre, esquecemos disso e esquecemos que a vida, justamente por ser tão frágil, deve ser vivida e valorizada ao máximo e vamos nos limitando a sobreviver, sem investir nos nossos sonhos como deveríamos, não investindo na arte de amar, perdendo tempo com mesquinharias e não pensando no mais importante, que é viver.

O engraçado é que temos o péssimo hábito de reclamar da vida, falando nas suas dificuldades, que viver está difícil demais, não vale a pena viver nesse mundo de hoje mas, ao nos depararmos com a morte, súbita ou esperada, de alguém próximo a nós, temos medo, porque nos vemos obrigados a nos confrontar com nossa mortalidade e com a verdade de que não somos nada além de poeira ao vento.

E, além de medrosos, somos muito tolos, porque pensamos que podemos controlar tudo o que acontece. Mas o que, de verdade, controlamos? Alguém pode se matar de treinar para um campeonato, mas isso não significa que ganhará; uma pessoa pode economizar dinheiro para comprar o tão sonhado objeto e, ao chegar à loja, aquilo que foi tão almejado já foi comprado e os pais podem tentar ensinar bons valores aos filhos que, por serem livres para escolher seus caminhos, decidirão se seguirão ou não os bons conselhos. Por que falo tudo isso? Porque cheguei à conclusão de que, se não temos poder sobre a vida, não adianta tentar entendê-la o tempo todo. Há coisas que nossas reflexões não alcançam. Penso do mesmo modo acerca da morte. É inútil tentar compreendê-la. O que nos resta fazer é cuidar da vida da melhor forma, aproveitando o tempo que estamos aqui, porque não sabemos quanto tempo será.

Pensar que meu tio irá a qualquer momento me entristece, pois ele sempre foi uma pessoa alegre e cheia de vida. Eu não poderei ir ao funeral, porque ele está em São Paulo. Aliás, ele tinha pedido para voltar para casa, mas os médicos disseram que não há condições. Como posso ver, ele sabe que não durará muito e está enfrentando os momentos finais com coragem.

Sentirei saudades dele, do seu sorriso e espero que, quando chegar o momento, toda a dor vá embora e ele encontre a felicidade eterna.