Tempos Modernos

Li um artigo, publicado em uma revista de circulação nacional, em que o autor dizia: “Deveríamos educar as pessoas para aproveitar a vida, não para o trabalho”. Subitamente, lembrei da fábula A cigarra e a formiga. Estará “certa” a formiga ou a cigarra? Como saber? Pensei. Somos educados para ser formigas. A maioria dos projetos de inclusão social volta-se à capacitação para o mercado de trabalho. As instituições de Ensino Superior, principalmente as da rede privada (composta, em sua maioria, por trabalhadores), propagam a ideia de que preparam o profissional do futuro (atente: o profissional).

E eu, aqui, num domingo de sol, após uma semana de trabalho, lendo e refletindo sobre um material didático do Humanas (leia-se: Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Continuada para as Humanidades) da Universidade Federal do Ceará. O tema proposto no fascículo I é: Trabalho – um conceito para a construção da aprendizagem. Para falar sobre o tema, a autora constrói um cenário onde aparecem narrador, professor, alunos e tutor que discutem, de forma participativa, crítica e reflexiva, sobre Trabalho e Sofrimento; Trabalho e Capital, Trabalho e Solidariedade.

Por um momento começo a refletir sobre a prática docente e lembro-me de Carlito, personagem de Charlie Chaplin. Vejo eu, professora, acumulando horas de aulas para reunir capital. Os parafusos, apertados por Carlito, representam o acúmulo de provas, trabalhos e cadernetas que precisa ser entregue, sempre, o mais rápido possível. Também não posso, tampouco devo, me esquecer de ser generalista; estudar sempre; ler mais; fazer especialização; publicar material; participar da reunião pedagógica; cuidar da família... Transferiram responsabilidades para mim. Chega! Ufa! – O professor pirou, pifou, estressou...

Voltando ao texto do material didático, penso e chego à conclusão que estudar é trabalhar. Quem precisa conciliar estudo com atividade profissional perceberá que estudar é mais trabalhoso.

Desejaria escrever mais... Acontece que há provas para corrigir e amanhã é segunda-feira, o que significa dizer que acabou a folga. Folga?! Paro por aqui, mas deixo uma mensagem.

Caro educador, “educação é um tesouro a descobrir”, como escreveu Jacques Delors no relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. Então, pensemos: somos professores/educadores, fazemos parte desse tesouro. Que possamos ser descobertos (enquanto há tempo), e deixemos de estar na condição de formiga e passemos a ser formigarra! É possível?

Verônica Almeida – 2009.

Verônica P. Almeida.

Professora de língua inglesa da rede pública de ensino SEC/BA.

Especialista em Metodologia da Educação Superior – FBB.

Mestra em Língua e Cultura – UFBA.

Texto publicado na Revista Presente – CEAP. (Centro de Estudos e Assessoria Pedagógica), CEAP - Salvador/Ba, p. 33, 01 nov. 2011.