O abraço

Era véspera de ano novo e haviam me largado em algum lugar de São Vicente. Eu não sabia onde estava, nem como faria pra chegar, nem sabia exatamente aonde chegar, mas tinha que. Não acreditava que estava ali! Estava inquieta, queria correr, voar, chegar!

Perguntei a um japonês para que lado era Santos, ele falou meio desajeitado “Santos lá” e apontou para a esquerda. Eu caminhei meio a multidão vestida de branco, quase correndo, torcendo para que o “Santos” do japonês fosse a orla santista.

Vi uma cerca de ônibus passando do outro lado da avenida e sem pensar duas vezes, corri até lá, quase sendo atropelada por diversas veze, me xingaram via buzinas, mas não me importei.

Cheguei ao ponto de ônibus sem saber ao certo o que estava fazendo lá, talvez pegasse algum ônibus que fosse rumo às praias e de lá me orientaria melhor, ou tentasse a sorte pegando algum Canal, mas qual era mesmo o Canal? Arriscando poderia chegar mais rápido (e meu Deus, como eu queria chegar...), o que me fez optar pelo Canal, mas qual era mesmo? Estava entre o Canal 2 e o 3. Meu único ponto de referência era a Vila, mas eu era uma turistona na baixada, mal sabia onde estava...

Avistei um ônibus Canal 2, me benzi e embarquei. É claro que eu poderia ter perguntado ao motorista se o Canal 2 era o da Vila Belmiro, mas como boa turista que não quer parecer uma, não perguntei, ainda assim, ele deve ter notado que eu não era dali. Eu o perguntei “Quanto é a passagem?” e ele disse “R$4,30”. Minha vontade era de dizer que eu não pagava isso nem na Linha Amarela do metrô, mas como boa turista, paguei. Aquele safado deve ter faturado aquele dia...

Sentei em qualquer lugar e o calor que já fazia se intensificou, o que me deixou ainda mais ansiosa. Chegar, logo, eu vou chegar logo, eu mentalizava. Peguei o celular para tentar fazer uma ligação, mas em segundos ele fez aquele barulho irritante de quando desliga, quis jogá-lo pela janela...

Eu olhava sempre rumo ao final da avenida de São Vicente, rezando para ver o mar. Pelo menos o motorista safado andava depressa.

Por fim, vi a orla e me acalmei. Tudo ia perfeitamente bem até o Canal 1; o ônibus corria e estava na orla, até que me veio a tona um fato que eu havia me esquecido: Eu estava na orla faltando algumas horas para o reveillon! O transito ficou caótico e eu começava a soar, rezava para o ônibus criar asas, chegar logo ao Canal 2 e SER o Canal 2! E se, fosse o Canal 3? E se, eu passasse a virada dentro daquele ônibus? E se? Mil coisas se passavam em minha mente, eu só queria chegar.

De tempo em tempo, o ônibus andava meio metro, até que brutalmente ele desviou do trajeto da orla e se entranhou nas ruas de Santos. Caramba, agora eu estava perdida mesmo. Uma parte de mim agradecia por ter saído do trânsito, a outra rezava para que eu visse algo conhecido.

Cheguei no Canal 2, que estava tranquilo, ele me era familiar e comemorei sozinha. Mas, e agora, em que ponto iria descer? Sabia que era ao lado de uma bomba de gasolina, mas estava escuro e eu não via muita coisa, mas jurei tê-la visto e desci. Não sei como, mas confundi um restaurante com uma bomba...

Corri pelo Canal alguns bons minutos, até que, finalmente, encontrei a bomba. Corria Rua Guararapes adentro, procurei meio a escuridão, o achei, todo de branco com a expressão preocupada, de braços cruzados, lindo. Ele me viu e se apressou até mim. Sem aguentar mais correr, cambaleei ofegante e me joguei em seus braços.

Ele me abraçou.

E em seus braços, por fim,

cheguei.

Lu A
Enviado por Lu A em 31/03/2014
Reeditado em 31/03/2014
Código do texto: T4751536
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