A culpa é de quem?

Imagine que uma pessoa sai de casa, de noite, e deixa a porta da frente aberta, e o portão, destrancado. Quando ela volta, após algumas horas, descobre que várias de suas coisas não estão mais lá. Você deve pensar: "Mas é claro que seria roubado, quem deixaria as coisas assim?". Contudo, é exatamente essa ideia que, embora verdadeira nas condições atuais, é uma concepção preocupante.

Quando pensamos que, se uma pessoa deixou a porta aberta, ou a bolsa sozinha, é lógico que ela será roubada, estamos colocando a causa do furto na vítima. Esse tipo de raciocínio é resultado de uma sociedade que já vê o crime como algo usual e, ao invés de combatê-lo, procura apenas evitá-lo. Observa-se o mesmo pensamento nos casos de estupro. É comum ouvir-se "mas olha a roupa que ela estava usando!" ou "mas ela andava sozinha a essa hora?", como que justificando o crime.

No entanto, quem está errado? A mulher que usa um short no verão, ou o homem que a violenta? A pessoa que se distrai de seus bens por alguns minutos, ou a outra que os pega, sabendo que não lhe pertencem?

Mesmo as pessoas tendo instintos que lhes dizem o contrário, há uma certa cultura a ser seguida, o famoso "bom senso", ou simplesmente a razão. Com uma mínima noção do que é certo e do que é errado dentro da sociedade e a ciência dos direitos alheios, podemos perceber que há certas coisas que não devemos fazer para uma boa convivência em comunidade. E assim (com exceção de casos de verdadeiros distúrbios), somos capazes de escolher não fazê-las.Podemos nos precaver com chaves e cadeados, ou condenar a mulher que sai sozinha de noite, mas isso não resolve o problema em si, e às vezes nem o evita. Afinal, mesmo com coercitividade e repressão, as ações de cada pessoa só podem ser real e eficientemente controladas por ela mesma. Pois, como escrito por Freud, "não há autoridade maior do que a razão".

#NaoMerecoSerEstuprada

Ana C Melo
Enviado por Ana C Melo em 02/04/2014
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