FORMAÇÃO DE QUADRILHA

FORMAÇÃO DE QUADRILHA

Rô Mierling

Passo na frente de uma boate tarde da noite e vejo uma fila enorme de pessoas. Paro meu carro, abaixo o vidro e fico olhando. Impressionante a quantidade de pessoas paradas em filas que não andam, todas vestidas de forma igual, como uma grande quadrilha de festa junina. Analisando aquela cena vejo que uma fila é de mulheres e outra de homens, mas que ambas não se movimentam. Observando melhor vejo que na frente de cada fila tem um rapaz analisando as filas sem deixar ninguém passar, por enquanto - presumo eu. Mas o interessante não é isso e sim a forma como as mulheres e homens estão vestidos, meio que padrão: as mulheres de saias curtas, blusas justas ou transparentes, algumas de vestidos curtos, todas de saltos altos, cores similares, cabelos esticados artificialmente (sei como é porque estico o meu também) exalando perfumes similares (deve ser algum desses perfumes com número no lugar de nome). Os homens todos de calça jeans e blusas com botões na frente, cores neutras, cabelos com gel.

Se bem me recordo, no interior de uma boate a luz clara não predomina, então penso eu:

- Como é que essas figurinhas, vestidas assim, vão conseguir se identificar uma à outra quando estiverem lá dentro? São todos iguais, muda pouca coisa e os pontos que mudam como cor da pele, cor dos olhos, sorrisos, não serão possíveis de serem identificados dentro daquele espaço pequeno, apertado e mal iluminado.

Ligo meu carro e vou para casa pensando nessa questão de pessoas robotizadas, todas iguais, seguindo um determinado padrão até mesmo para o cheiro que exalam. Chego em casa e conto o motivo de minha demora ao meu filho mais velho, que não “curte” sair para “balada” e ele heroicamente me salva da ignorância contando que está na moda se vestir assim, tanto para os homens quanto para as mulheres e que eles não querem ser identificados no interior da boate, só querem beber, dançar e “ficar” com alguém.

Eu pergunto então como vão saber com quem “ficar” ou com quem “querem ficar” se todos estão vestidos iguais e ele logo olha para mim, sorri e diz:

- Mãe, não faz diferença. O rapaz de calça jeans e blusa de botão pega a moça de saia curta e blusa colada, ambos cheirosos e ponto final, não importa quem pega quem. (Conclusão: o que os distingue é roupa masculina x roupa feminina)

- Como assim, não importa? Então qualquer um vai beijar qualquer um? – complemento eu mostrando minha surpresa.

- Sim – responde meu filho.

Eu penso então que na verdade ainda está tranquilo, pois no escuro da boate a calça procura a saia e vice versa, imagina se todos usarem calças? Pior e se todos resolverem usar saias?

Rô Mierling
Enviado por Rô Mierling em 05/04/2014
Código do texto: T4757817
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