Carnaval na minha cidade natal.

Neste carnaval nos propusemos a viver o diferente. Resgatar o aconchego da família; voltar às nossas origens, onde nascemos e crescemos, brincando de cara para o vento, atolando na lama das ruas, ainda de terra, brigando, conquistando espaços, aprendendo a ser líder. Sim, Gália, nossa cidade Natal, foi a escolhida para passarmos o feriado de Carnaval.

E como foi prazeroso! Muito bom! Desfile de blocos, carros, fantasia, bateria com muita a animação e trabalho. Mas, nesse sair para apreciar a festa nos alegramos ao encontrar amigos que há muito não víamos. Amigos de infância, ou filhos de amigas, que se perderam pela distância, mas nos reencontramos no face. Lado bom deste aplicativo! Neste carnaval nos abraçamos ao vivo e à cores...! "Oi minha amiga do face, e verdadeira". Sinais dos tempos. Muitos abraços e sorrisos. Rever família, estreitar laços, “tricotar” com irmãos, fortalece o vínculo familiar. Reviva o amor, desata os nós da carência de atenção, de afago.

O encantamento da natureza, foi mesmo, sentar nos bancos do jardim ao entardecer. Quantas recordações nos trazem! O imaginário baila nas lembranças. Parece que conseguíamos ver os mesmos moradores saindo de suas casas. Ali morava o Toninho. Olha casa da D. Nenê, minha professora... Quem morava naquela amarela, mesmo?

Minha irmã Lourdes e eu, chegamos cedo para a missa, em nossa encantadora Igreja Matriz. Neste espaço de tempo pude apreciar o céu mais deslumbrante que meus olhos já viram. Parecia que o mar estava de cabeça para baixo. Não se enxergava uma nuvem, apenas as estrelas, surgindo para iluminar aquele céu que estava prestes a se esconder, para humildemente dar lugar à lua prateada que já despontava. Era um degradé de azuis. Exuberante! Em desenhos circulares, se via desde o azul claro, turquesa, azul hortência, azul petróleo. Mas, de uma intensidade que emocionava a alma. Só um poeta descreveria tamanha beleza. A mim, apenas sentida, pois desvendo a poesia no cotidiano, e não em palavras. Esta "pintura" emoldurada pelos altos coqueiros, me faz acreditar na presença de Deus, em cada pedacinho deste planeta.

Minha vontade era bater no ombro de cada pessoa que por ali passava e apontar para este céu... Olhe! Não perca este deslumbramento, presente de nosso Deus. Não olhe apenas na linha dos seus olhos, ou para o chão. Tem mais belezas acima do nosso olhar. Em contraponto a esta paz, esta poesia, um barulhento trio elétrico, com o som nas alturas embalava uma moçada, numa alegria, alimentada pelas latinhas em suas mãos, desde o raiar do dia. Alegria pela alegria? Falsa alegria! Esta, por certo, não parte de suas almas, de seus sonhos, ou conquistas. Passando entre pessoas e tão jovens ainda, se afogando em bebidas em ressacas, tenho medo. Não deveria, mas sinto. Por que não me envolve a alegria? Afinal é a juventude nas ruas, com toda a sua vivacidade.

Que efeito estranho esta festa exerce sobre os indivíduos. Falo daqueles que se permitem transgredir, porque é carnaval. Durante o “reinado do Rei Momo”, este jovem deixa em uma gaveta, sua alma, seu espírito; esquecendo – se, que ele próprio mora neste corpo, agora maltratado, descascado pelos excessos. Jovens que não dão conta deste corpo; mente que não elabora raciocínio. Traça um parênteses, aonde fica dormitando por 3, 4 dias. O que diria o seu reflexo diante do espelho? Que face revelaria?

Não, ele não quer pensar. Carnaval não combina com pensar. Nesta transgressão presenciei, ali pertinho das famílias que se encontravam, falando de suas lembranças, uma briga entre alguns adolescentes, mostrando a barbárie que o ser humano, ainda exerce, hoje, como se estivessem nas arenas Romanas. O moço cai e os demais batem em seu corpo, em sua cabeça com cadeiras de ferro, sem pensar nas conseqüências, no bom senso. Tudo se faz em nome do Carnaval. Uma mãe dizia para o filho “Você está bebendo muito. “Não esquenta mãe. Depois do carnaval eu paro”.

Mas existe também a alegria, que não transgride, a qual é brincada em família, no salão, com amigos... Parece que neste momento queremos “jogar a toalha” de nossas preocupações, fardos que nos pesam no dia a dia. Uma vontade de trocar nossos deuses, nossos demônios. Um chega pra lá, no sistêmico, no jeito cartesiano de resolver nossas pendências, nossas neuras. O toque das marchinhas, o repique dos tamborins, dos surdos, despertam uma sensação de vibração, de arrepio pela emoção, que nos falta no cotidiano de trabalho, na correria, nos encargos. Mesmo por um espaço pequeno de tempo, usufruir de um jeito de viver, de sorrir, de ser mais leve, propósito de muitos réveillons. “Deixar a vida me levar, leva eu”. Aproveitar a vida a dois, namorando, revivendo os bailes da época de paquera, de noivado. Essencial este afago, este sussurrar no ouvido de quem se ama. A alegria descontraída do Carnaval faz aflorar tais desejos. E por que não vivê-los? Se há tantos risos... oh! quanta alegria... no salão?

Vou além dos salões enfeitados. Questiono a importância do ambiente, ao nosso redor. Assim como o carnaval suscita o contentamento; um ambiente, com humor, acolhedor, poético, também não exerceria a vontade de sentir a emoção da vida, na vida, em nós? Um lugar com leveza...

Nossa inquietação, nosso desejo louco de amar, nossa ânsia pela alegria, de sentir arrepios, pode ser alcançada por voos altos, por fazer o que temos vontade, por mais simples que seja, sem a muleta da bebida, da maconha, da cocaína. Sem a desculpa do não ter tempo, não ter oportunidade, estar só. Sejamos companhia de nós mesmos.

A senhora, com 87 anos, achou um caminho para ser feliz. Não é que teve vontade de rezar alto na Igreja e não se fez de rogada? Pediu o microfone e realizou seu sonho. Não somente rezou, mas declamou, com a emoção que transbordava de sua alma. Vivenciou uma satisfação inenarrável!

Eu mesma, posso estar me esperando, para me fazer feliz. Devo me apressar.

Que pena, se eu resolver esperar até o próximo carnaval!

Utopia? Será?

olyndabassan
Enviado por olyndabassan em 11/04/2014
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