A dor de tantas Marias

O cartaz da Campanha da Fraternidade de 2014, nos apresenta mãos clamando por libertação, implorando para que sejam rompidas as correntes

que aprisionam vidas, corpos e almas. Denuncia situações de degradação humana, de indignidade e de crueldade; impostas pelo tráfico de pessoas, de órgãos, e pelo trabalho escravo.

Poderia falar da cifra de 34 bilhões de dólares, lucro obtido pelo tráfico; das 75.000 pessoas ao ano, submetidas à

crueldade dos senhores poderosos deste comércio, apenas no Brasil. No mundo, são milhões. Poderia, ainda, citar as rotas dos países de origem e de destino.

Porém,olhando para o tráfico de crianças, me vem o rosto de Maria, Mãe de Jesus, que teve a graça de “ensinar o Cristo a falar, que fez Jesus caminhar”. As “marias” de hoje, choram pelo filho, fruto gerado de seu amor, tirado de seus braços pelo poder do tráfico. Já não embalam, não sorriem, muito menos orientam os primeiros passos de seus bebês.

Em forma de oração, eu me lembro de Maria, nossa Mãe, que viveu a aflição pela perda de Jesus, por um breve

período de tempo, enquanto ele pregava no templo. Ela entende

da dor de separar-se de uma parte de seu próprio ser.

Outras “marias” submetem-se à solidão. Seus maridos, mesmo cansados pelas durezas da vida, partem à procura de trabalho, de sonhos, de sustento da família, em terras distantes.

Esperançosas, não imaginam o sofrimento destes homens que são escravizados, sem direitos trabalhistas, sem moradia, espoliados pelos contratantes que lhes impõem um trabalho escravo.

Eles também sofrem pela ilusão não realizada, pela vida que quiseram ter e não conseguiram. Acreditaram em promessas, sem saber que eram falsas.

“Em cada mulher que a terra criou, um traço de Deus Maria deixou”. Os senhores do tráfico não reconhecem este traço de Deus em cada mulher, em cada jovem traficado; cruelmente

tratado, castrado em seus sonhos. O que vale não é o traço de dignidade, não é o traço de Deus, é o dinheiro, o lucro pela sexualidade, pela venda do corpo.

Maria gerou um corpo pleno, único, templo do Espírito Santo, seu filho Jesus. Esse corpo foi glorificado por Deus e o nosso também é. A ninguém é dado o direito de penetrar em suas entranhas e extrair órgãos, para alimentar uma rede de tráfico de órgãos de cifras bilionárias.

“Maria plantou sonhos de paz com a ternura do seu amor de Mãe”, do seu cuidar, de estar atenta às necessidades

do outro. Que paz podem almejar as pessoas que não são livres, que são separadas deste amor da mãe, da família, de seus pilares de sustentação? Só lhes restam as saudades, que apertam o peito, lágrimas que escorrem no silêncio e na escuridão de seu quarto, querendo contar ao mundo um pouco da escuridão de sua alma. São obrigados a trabalhar sempre sorridentes, lutando para sobreviver nos porões do mundo, a serviço do tráfico. Vidas não vividas, desperdiçadas, vendidas.

Maria, mediadora nossa, olhai por todas as vítimas escravizadas, mergulhadas numa cultura de morte que as fere em seus corpos, em sua liberdade, em seus valores e em seus princípios. Amém

olyndabassan
Enviado por olyndabassan em 13/04/2014
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