TERROR PÚBLICO E COLETIVO

Já era hora de sair de casa, madrugada gelada, uma, duas,três camisetas e a jaqueta mais quente que se encontre, dirijo-me até a porta, meu corpo dói, meus músculos parecem atrofiados, fora de uso há séculos, enquanto me perco sentindo o que não queria sentir a despeito de meu corpo, sem perceber, já estou do lado de fora, quando me deparo, que neste dia, o próprio dia não veio, o que se via, ou não, era escuridão e só, o que já era muito pra quem saíra de casa por tão pouco e deixará pra trás tudo.

Quando penso que nada poderia ser mais anormal, ouço um barulho ensurdecedor, algo de metal, parecendo se despedaçar a qualquer instante, vem em minha direção, me deparo com uma espécie de caminhão gigante, uma espécie de frigorífico móvel, paira logo a minha frente, neste momento congelo, acho que enfim conhecerei o que conceitua a morte, talvez acabasse de morrer e já estivesse experimentando os procedimentos necessários, o que poderia ter me ocorrido? uma bala perdida? o coração que se recusará a bater? enfim, tenho que enfrentar minha presente situação, de fora possa ver que ha vida dentro daquela coisa, penso em voltar pra casa, abraçar minha família, ler um bom livro junto á uma xícara quente de café, em baixo dos edredons, porém quando tento mover meus pés, já não tenho escolha, de alguma forma, já sou refém daquela situação.

A situação interna me da ânsia, seres, não consigo perceber nitidamente se estão vivos ou mortos, só consigo ver no semblante de seus olhos, que não possuem escolha, consigo entendê-los, afinal, como poderia eu ter escolhido uma experiência tão macabra? Não há motivos para não ter seguido minha ideia de fugir para casa, sinto que já sofro pela mesma maldição que eles.

Com tamanho terror experimentado ao entrar, mal pude me atentar sobre as criaturas que me rodeiam, quando o faço, é que percebo o pior. Corpos de crianças e corpos de senhores, ambos cristalinamente na transição vida e morte, seus corpos batem e rebatem por toda a lataria de metal interna, com brutalidade, como pedaços de carne que logo serão servidos, crus, aos urubus. Neste ato, vendo as múltiplas facetas dos reféns é que me indago! Há quanto tempo estou aqui? Porque entrei? Porque não sai?

Sentindo a frustração dos rostos e corpos que me rodeiam, pendurados ao teto, por ferros, como restos bovinos que toda manhã abastecem os supermercados, logo vejo que o único assustado com a situação sou eu, que talvez... Nunca tivesse experimentado tal situação, vez que os mais novos e os mais velhos, agem com normalidade á situação de horror, a morte asfixia qualquer cor que tenha vida neste local, não há sentido, mas vejo como seus músculos se contraem, é normal, vendo tamanha aceitação, me aterrorizo, várias perguntas preenchem minha cabeça, talvez... Aceitar é o inevitável caminho, talvez... Eu me acostume... talvez... Eu já esteja nesta situação a 400 anos!, talvez... Eu devesse esperar um outro ônibus.

Alphamu
Enviado por Alphamu em 21/04/2014
Reeditado em 21/04/2014
Código do texto: T4776956
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