Tchekovsky orienta casais

Dia ensolarado com 21° C de temperatura na cidade do Alegrete, RS, no dia 21 de abril de 2014.

Francisco João Tchekovsky, literato imortal e músico gaúcho de fama internacional, levanta-se de sua cadeira n° 7 da Academia Alegretense de Letras e dirige-se ao anfiteatro contíguo, onde aguardam-no dezenas de casais provindos de todo o Brasil para conhecer sua visão sobre o casamento. Cumprimenta amavelmente alguns casais sentados na primeira fila e, dispensando apresentações e formalidades, inicia sua exposição tranquilamente:

“Baseado em Immanuel Kant, filósofo do século XVIII, que conjugou o racionalismo com o empirismo e inventou uma ética formal a partir de imperativos categóricos universais, o filósofo do Direito Ronald Dworkin, norteamenricano, os adaptou para uma formulação bem mais digerível e compreensível que é considerado o cânon, ou princípio-base, da moralidade – existência de relações humanas dignas e saudáveis:

‘TODOS OS HOMENS, MULHERES E CRIANÇAS SOMOS IGUAIS E MERECEMOS IGUAL CONSIDERAÇÃO E RESPEITO’.

O respeito e a igual consideração são, portanto, a base da ética. A ética é a reflexão filosófica sobre a moralidade uma vez que precisa ser pensada nos diferentes contextos históricos e culturas onde as comunidades humanas vivem.

Viver eticamente é ser possibilidade de vida para os outros. Se eu vivo abaixo da linha do respeito, torno-me impossibilidade de vida para os que convivem comigo. Detono a relação. E tudo o que foi construído antes pode vir abaixo...

Digamos que num gráfico a linha horizontal das abcissas é a linha do respeito. A linha vertical das ordenadas mostra a intensidade da vida humana ética vivida. Se cruzamos para baixo da linha do respeito, começamos a nos tornar impossibilidade de vida para o outro, a detonar a convivência atual e passada...

O que é considerado falta de respeito na casa de uma família?!

RECLAMAÇÃO: é um azedume. Ninguém deve reclamar de nada! Contornamos os limites uns dos outros (pela enésima vez... Deus age assim conosco – paciência infinita!) e superamos os desafios. Para isso, estamos vivos, somos inteligentes e trabalhamos... Quebrou-se um prato, por exemplo, logo superaremos essa intercorrência negativa e compraremos um outro. O bife está uma sola de sapato de tão duro... fica quieto! Sai da mesa e dá um jeito rápido na cozinha de amolecê-lo, seja na frigideira ou no micro-ondas e, ao voltar à mesa, se perguntarem algo responde ‘Não foi nada’, volta a comer e a conversar alegremente como se nada tivesse acontecido.

IRRITABILIDADE: Jesus lembrava 'Moisés dizia: Não matar! Eu porém vos digo: Não te encoleriza contra teu irmão porque serás réu no tribunal.' Quer dizer, na raiva já existe um vetor de desejo de morte.

GRITO: Ninguém aumenta o volume de voz dentro de uma casa a não ser para chamar alguém que está longe.

OFENSA VERBAL: Jesus dizia 'Não chama teu irmão de idiota ou de cretino porque será réu no tribunal'. Quer dizer, se Jesus ao preço de seu sangue derramado por amor, deu a cada um de nós a sua condição de FILHO DE DEUS, é baixar muito o nível chamar alguém de idiota ou outros insultos.

VIOLÊNCIA FÍSICA: os conflitos humanos são resolvidos sempre através do acordo, consenso, combinação, contrato porque somos dotados de linguagem, inteligência, liberdade e eticidade (respeito).

ESTÁGIOS DA VIDA MATRIMONIAL:

1 - AMIZADE

Um homem é amigo de vinte mulheres. Uma mulher é amiga de vinte homens. Este homem olhou mais detidamente para três mulheres; são amigas especiais. Esta mulher olhou mais detidamente para três homens; são amigos especiais.

Tomando, como protótipo, somente o caso do homem, as três mulheres mudaram da condição de AMIGA para AMIGA ESPECIAL. Agora, este homem mantêm-se interessado afetivamente de forma muito especial só por uma delas. Esta passou, portanto, de AMIGA ESPECIAL para NAMORADA. Depois ela passou à condição de NOIVA. Mais um tempo se passou e ela passou à condição de CASADA.

São quatro estágios acima da condição com que Jesus nos trata: “Já não vos chamo servos, mas AMIGOS porque vos revelei tudo o que ouvi de meu Pai”. O amigo revela tudo.

2 – SEXUALIDADE

Um universo belíssimo, intenso, afetivo, mas inespecífico!

3 – ROMANCE

Um universo belíssimo, intenso, afetivo e específico!

O que é um romance?!

É exatamente o que ocorre nesse exemplo prático: Dois jovens – um rapaz de 25 anos e uma garota de 23 – estão em Porto Alegre, RS, no inverno, com vento e clima à uma temperatura de 7° C, num final de tarde com chuvisco ou garoa no segundo andar de uma casa de dois andares numa sacada que dá para os fundos do terreno onde se vê lá de cima as árvores de um parque, um pomar e um jardim. Piso de cerâmica molhado, sem cadeiras, porta de vidro fechada atrás que dá para uma sala com TV, bochechas molhadas, ambos estão de pé com as mãos no corrimão da sacada.

A mão direita dele está sobre a mão esquerda dela que se apoia sobre o corrimão. Ele pensa: ‘EU ESTOU SEGURANDO A MÃO DESSA LINDA! ELA TEM O JEITO FEMININO DE SER QUE ME ENCANTA E ME LEVA A VIVER MOMENTOS DE ALEGRIA! EU QUERO PASSAR A MINHA VIDA INTEIRA DANDO RISADAS COM ESTA MULHER! ESTA AQUI É A MELHOR SACADA DO MUNDO!’ (esta sacada, objetivamente, é a pior em intempérie do Rio Grande do Sul naquele final de tarde!)

Enquanto isso, ela pensa: ‘EU ESTOU SEGURANDO A MÃO DESSE LINDO! ELE TEM O JEITO MASCULINO DE SER QUE ME ENCANTA E ME LEVA A VIVER MOMENTOS DE ALEGRIA! EU QUERO PASSAR A MINHA VIDA INTEIRA DANDO RISADAS COM ESTE HOMEM! ESTA AQUI É A MELHOR SACADA DO MUNDO!’ (enfatizo que esta sacada, objetivamente, é a pior em intempérie do Rio Grande do Sul naquele final de tarde!)

Isso é ROMANCE!

Quer dizer, para cada desejo sexual, o homem deve ter um desejo não sexual de encantamento por ela e vice-versa.

Um dia o inespecífico vai desaparecer, e o específico ficará ali naquela mesa de jantar com o velhinho e a velhinha satisfeitos, esparramando encantamento para todos os lados na maior simplicidade aparente!

4 – MESA

Se o orgasmo sexual é uma exponencialização da sensibilidade, a mesa, de uma certa forma também o é, pois o sentido do paladar é quase infinitamente multiforme, sentindo os mais diversos sabores numa mesma refeição: arroz à grega, feijoada, strogonoff de filé, batata palha, suffleur de chuchu, pudim, sorvete de chocolate, degustação de vinho, etc...

Como na nossa mesa só estão as pessoas que nós amamos, então estar à mesa para uma refeição também torna-se um deleite visual! Cada um conta como foi o seu dia. Televisores e outros equipamentos que distraem devem manter-se desligados. Ninguém começa a comer enquanto todos não chegaram. E ninguém levanta da mesa enquanto alguém ainda estiver comendo. Se não existe mesa, a família perde força e estamos inseridos num cortiço ou hotel.

5 – PALAVRA DE DEUS

‘Portanto, quem ouve as minhas palavras e as põem em prática é semelhante ao homem (mulher) prudente, que construiu a casa sobre a rocha. Vieram as ventanias, tempestades, borrascas e deram sobre a casa e ela não caiu porque estava construída sobre a rocha.

No entanto, aquele que ouve as minhas palavras e não as põem em prática é semelhante ao homem (mulher) imprudente construiu a casa sobre a areia. Vieram as ventanias, tempestades, borrascas e deram sobre a casa e ela caiu e sua ruína foi completa porque estava construída sobre a areia’. (Mt 7, 24)

Existe uma Palavra de Deus revelada numa presença ressuscitada de Jesus Cristo em nossas igrejas (construções) quando o povo de Deus celebrante encontra-se ali reunido. O casal deverá ir junto lá com as crianças nas celebrações litúrgicas semanais, pelo menos. Pois a Palavra de Deus é o epicentro de sentido no planeta, que une com sua força centrípeta os corações humanos (fraternidade ou conflitividade em baixíssimos teores, quase inexistentes... em torno do único Pai presente na única mesa).

O casal ao entrar junto na igreja põe em evidência um processo que se desenrola mais ou menos assim: ela está dizendo para ele (e vice-versa) de uma forma não verbal, mas gritante, pois está de corpo, mente e espírito ao seu lado, que não é egocêntrica (o egocentrismo é a ante-sala, ou sala de espera, dos conflitos, comportamentos temperamentais e desrespeitosos. O egocentrismo é a ante-sala da briga!) que é espiritualizada, dinamizada e blindada pelo Espírito Santo.

Descentralizar o ego dessa forma é a oração frequente que deixa a Palavra assumir o centro, descomplicando a vida humana da sua redução às potências naturais para a amplitude protetora das fronteiras indeléveis e vivenciais, mas logicamente imprevisíveis da espiritualidade cristã.

‘O que Deus uniu, o homem não deve separar’. (Mt 19,6)

Por que Jesus disse isso?! O Evangelho não dá uma resposta... Mas quem já se separou, conhece bem a resposta. Palmilhou-a cada centímetro. Esta é a resposta: porque tudo vai escorregar para a TRISTEZA; daí, tudo vai escorregar para o RESSENTIMENTO (ou acusação mútua num pensamento contínuo que não para de girar mesclado com culpabilidade) e daí, tudo vai escorregar para o ÓDIO (que é o caldeirão borbulhante do Capeta).

Quando Jesus nos ensina a rezar o Pai-nosso (Mt 6, 7-15) ele diz que o PÃO e o PERDÃO são igualmente frequentes.

Vocês, portanto, não tenham medo de pedir perdão e recomeçar. A vida humana é assim! Lembrem-se: existe ROMANCE entre vocês!

E Jesus olhando para nós todos dá-nos uma aula de tolerância e paciência infinitas:

'Não vou apagar a chama que ainda fumega! Não vou quebrar a cana rachada!'

E, para concluir, como esquecer aquela maravilha do filme 'Os Miseráveis' de Vitor Hugo?!

Um musical que estreou faz alguns anos baseado na obra de Victor Hugo (século XIX), 'Os Miseráveis', com Hugh Jackman no papel de Jean Valjean, fugitivo da cadeia, e Russell Crowe no papel de seu perseguidor implacável Jabert, traz uma das maiores cenas da teologia cristã já representada na arte. Jean Valjean, após ter roubado os castiçais da casa de um padre, e ser pego pela polícia, é perdoado por ele que confirma para a polícia a mentira contada por Valjean: 'Sim, eu dei os castiçais para ele.'

Este ato transforma Valjean. O encontro entre a misericórdia e o pecador é uma das maiores afirmações do sentido da vida”.

Terminada sua exposição, Tchekovsky responde às perguntas e dúvidas eventuais, retirando-se logo após ao seu escritório próximo ao Salão Magno da Academia.

Miguel Wetternick
Enviado por Miguel Wetternick em 21/04/2014
Reeditado em 11/06/2014
Código do texto: T4777148
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