Retorno é uma lei

A campainha não parava. Nestor não aguentava mais o som irritante e insistente então se levantou. O homem sabia quem era uma hora dessas da madrugada. Ele estava com raiva de ter sido acordado, mas sorriu antes de abrir, depois fechou a cara. Ele tinha fúria no olhar, mas ao mesmo tempo um mistério e até um certo prazer na raiva que sentia.

Natasha estava lá na porta bêbada. Com a maquiagem toda borrada. Com uma garrafa na mão e limpando a boca com a outra borrando mais o batom vermelho. Ela sorria baixinho. Deu um gole e colocou o dedo no nariz de Nestor.

- Adivinha quem voltou?

Ele segurou o pulso da mulher com força e a empurrou pra fora.

- Safadinho... Bate que eu gosto.

Ela passou a língua pelos lábios, sorriu e bebeu novamente. Tentava arrumar o longo cabelo cacheado mas não conseguia de tão bêbada. E sorrindo agarrou Nestor num abraço forte, sujando toda camisa dele com a maquiagem borrada.

- Não me deixa... Eu te amo.

E desabou a chorar. Chorava, soluçava, tentava falar mas só balbuciava. Nestor estava estático não a abraçava. E quando viu que ela parou de chorar a empurrou.

- Acabou! Game over pra você! Você não entende?

Natasha então desabou no chão e agarrou as pernas dele num desespero e aos gritos num choro sem fim. Ele a levantou com força e a empurrou rumo a rua.

- Veado! Corno! Covarde! Tá batendo em mulher... Vou gritar pra todo mundo ouvir. Maria da Penha! Vem Maria da Penha! Polícia traz a Penha! Peeeenha!

Mas ninguém dava mais atenção à ela. Não naquela rua, todos sabiam o que Natasha aprontava e ela gritar pela Maria da Penha já era esperado.

- Natasha, você me roubou, me traiu, me humilhou... Transou com meu melhor amigo, mudou-se pra casa dele... Nada do que você xingar vai me abalar. Porque o mundo da voltas e você acaba sempre aí... Me implorando amor!

A mulher com raiva tentou avançar sobre ele mas Nestor deu um passo pra trás e ela caiu de rosto no chão. Ele sorriu e disse:

- Você sempre acaba nos meus pés! Acaba na sarjeta! E isso é o maior prazer da minha vida porque eu não tive que mover um dedo pra me vingar de você! A vida se encarregou de fazer com que você pagasse, sofresse em dobro...

- Para! Não quero ouvir isso... Não quero!

- Ok! Eu não falo mais.

- Canalha... Eu te amo! Eu vou voltar! Seu veado, cachorro... Eu volto viu! Volto!

- Claro que vai voltar! Você sempre volta e sempre te coloco pra fora e isso é minha maior diversão! Por isso eu não digo pra você parar de vir... Venha sempre! Porque no fundo é um prazer ver você aos meus pés.

E ela se levantou cambaleando e desceu a ladeira sem rumo... Sem destino... Humilhada... Mas olhou pra trás e piscou pra Nestor e foi embora bebendo no gargalo da garrafa.