UM NADO DE PEITO ABERTO

Era o ano de 1970, eu tinha doze anos e o Brasil três Copas do Mundo, quando conheci o Nado. Foi uma grande surpresa para mim, pois jamais esperava conhecer um jogador de Seleção Brasileira tão de perto, mas aconteceu de uma maneira muito simples. Nado veio jogar no Fortaleza já no final da carreira, mas ainda em boa forma. Eu já tinha ouvido falar dele, jogou na Seleção de 1966, fez parte do melhor time do Náutico de todos os tempos, com o famoso ataque Nado, Bita (seu irmão), Nino e Lala na década de 60. Ganhou diversos prêmios e era também conhecido por nunca ter sido expulso de campo. Nado era casado com uma cearense e a empregada lá de casa era prima dela. Ela pediu a minha mãe um dia de folga para visitar a prima que há tempos não via e perguntou se podia me levar, já que eu insistia, admirado, em perguntar-lhe se conhecia realmente o Nado.

Fui com ela. Todo encabulado, chegamos à casa do jogador. Fui apresentado como um grande fã. A princípio pensei que ele não daria a menor bola para isso, foi aí a minha surpresa. Nunca vou esquecer aquele dia. Nado era uma pessoa alegre e simpática, me recebeu como se eu fosse um repórter, um empresário ou alguém que pudesse promovê-lo sei lá como. E eu só tinha doze anos. Ele me falou da sua carreira, mostrou-me fotos, troféus, recortes de revistas, lembro-me da “Placar”, da “O Cruzeiro”, principalmente. Vi suas fotos com a Rainha da Inglaterra e com o Pelé. Fantástico. E ele explicando cada pormenor das fotos, dos momentos em que foram tiradas e tantos outros detalhes que me deixavam quase sem respiração de tanta admiração. Incrível.

Almocei na mesa com a sua família e ali ele me fez ser a figura mais importante. Eu me sentia como se fosse o próprio Pelé ou um herdeiro do Trono Inglês. Fomos embora à tarde e nunca mais vi o Nado a não ser da arquibancada do PV. Eu tinha certeza que ninguém iria acreditar quando contasse como foi aquele dia, aliás, nunca falei muito sobre esse episodio por dois motivos, primeiro porque tinha certeza que ninguém iria acreditar ou entender como foi significativo para mim, desconfio que talvez você que está lendo não acredite também. Segundo, porque eu tenho medo de chorar, como estou chorando agora, ao falar sobre esse assunto.

Nado faleceu em 2013, nunca pode lhe falar o quanto ele me fez bem, o quanto minha autoestima vacilante de pré-adolescente melhorou após aquela visita, pela maneira amável e atenciosa que me recebeu. Nos momentos mais expressivos que já vivi, nos quais me senti importante é difícil não lembrar o Nado.

À memória do grande ser humano José Rinaldo Tasso Lasalvia, o Nado, que no próximo dia 03 de maio, completa um ano de seu falecimento, registro minha homenagem e minha gratidão.