COM TODO RESPEITO Sra. LENAPENA

Tenho respeito por quem escreve. Juro que tenho. Não é trabalho fácil, demanda força, conhecimento e domínio da língua. Sem contar o envolvimento acerca do assunto descrito. Para mim, quem escreve, ou o que quer que se escreva, merece todo respeito. Posso discordar, mas o respeito, acima de tudo, mantém a cordialidade e independe da discordância ou da falta de simpatia.

Adoro crônicas, embora mal consiga articular uma. Leio. Leio. No RL li algumas das melhores que, fora do circuito conhecido do grande público, poderiam formar uma amálgama contextual e linguística de enorme requinte. E por sinal deveriam ser muito apreciadas por outros meios de comunicação.

Há também minhas espinhas entaladas. Leio as crônicas da Sra. Lenapena, e me assusto: não sei de onde tira tanto assunto. Não fico surpreso com a quantidade de assuntos, mas sim, com os mesmos assuntos com títulos diferentes. "Ah, a beleza da vida", "ah, o mistério da paz interior", "a dignidade inexpugnável do ser humano". Jesus desejaria ser recrucificado para não aguentar tanta pregação.

Já chamaram este tipo de texto de "mamão com açúcar", "goiabada com queijo", "diabete literata", não sei ao que atentar. Releio os textos da Sra. Pena, faço análises variadas e só encontro seu valor gramatical, – que além de inegável é digno da inveja – e as mesmíssimas abordagens da “experiência da vida”, da "excelsitude da vida", das "vidas que enobrecem a Vida".

Às vezes a autora faz pensar que a vida não tem miríada de complexidades insondáveis, que as resoluções para as interrogações mais insopitáveis, os abstrusos dilemas, as mais derruídas compleições da vida, podem ser compradas numa loja de 1,99, como se soubesse seu endereço, mas se soubesse nos passaria? Esse excesso de reverência desgasta a validade e a utilidade da Reverência. O pior é saber que ela sabe disso.

Ninguém tem tanta afeição para distribuir 24 horas por dia, ninguém enxerga tamanha humanidade na Humanidade, ninguém vê apenas beleza e sentimentos profundos e singelos no dia a dia. Ninguém. E se há alguém que afirme e veja isso, é um cabotino tão desgraçado que deveria ser desterrado onde Judas vendeu o violão e assassinou a banda.

Sou contra reacionarismo. Não quero parecer antipático, mas é só o que sinto ao fazer leituras da Sra. Pena.

Espero que este meu longo comentário fique apenas como nota reflexiva, interpretação exagerada pelo desgosto. Afinal não posso e nem devo ter nada contra Sra. Pena. Pelo contrário: tenho é que tirar o que puder de proveito (?) de cada leitura sua que fizer – tarefa árdua –, ainda que sinta enorme dificuldade com tanta meiguice, tanto "samaritanismo", tanta amabilidade. Que pena, com todo respeito.

Grouchesco
Enviado por Grouchesco em 30/04/2014
Reeditado em 19/05/2020
Código do texto: T4788826
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