LÍNGUA ÁCIDA

Talvez se ela não tivesse passado tanto tempo na cozinha, cozinhando o seu próprio tempo com palavras tão sem tempero, acerca da vida alheia... Talvez hoje muitas vidas teriam mais sabor.

Talvez se ela tivesse quem sabe um curso, se informado mais, seus assuntos seriam mais vastos, mais inteligentes também. Teria falado mais de coisas e menos de pessoas. Talvez teria causado menos estragos.

Talvez se ela tivesse preenchido a ociosidade da mente com menos religiosidade e mais amor e tivesse falado bem menos e praticado bem mais. Talvez teria mais pessoas ao seu redor.

Talvez se ela não manipulasse tanto para ter tudo e todos e em todo o tempo somente para si e o restante que se danasse. Talvez realmente menos gente teria se danado mesmo.

Talvez se ela fosse (ou ao menos) tentasse ser menos hipocondríaca e não se fizesse tantas e tantas vezes de vítima. Talvez hoje seus ossos teriam mais saúde.

Talvez se ela tivesse usado a sua posição na hierarquia com mais sabedoria, amor e menos manipulação. Talvez os seus influenciados teriam sofrido menos perdas, menos traumas.

Talvez se ela não camuflasse tanto suas reais intenções e se seu amor realmente fosse altruísta e menos arrotado. Talvez não seriam tantos os feridos hoje.

Talvez se ela não tivesse manifestado tantas vezes o seu lado obscuro disfarçado sob o brilho de ouro de tolo. Talvez mais gente hoje viveria mais na luz.

Talvez se ela não fosse tão amada por outros e tão mal amada por ela mesma, hoje seriam necessários bem menos profiláticos. Ainda bem que para alguns, apenas uns poucos envelopes de antiácidos resolve o caso. Infelizmente para ela e para tantos outros, será necessário um bom tratamento para o câncer que corroeu todo o seu bom senso ao longo de toda uma vida.