Paçoca

Dona Isaura com seus oitenta anos estava na cozinha na maior disposição cantarolando e preparando um bolo de fubá. Andava de um lado pro outro, mexendo nas coisas enquanto o bolo assava. Foi nessa hora que escutou o choramingado da neta. Franzindo a testa foi em direção ao choro.

- Que foi dessa vez Josiane?

- Nada não vó...

- Que nada o que menina? Só doido que vai chorar por nada... Gente doida com depressão! Aposto que você sofre disso...

- Não vó... Eu não sofro disso. Sofro de amor.

- Ai meu saco!

- Credo vó! Isso é maneira de falar?

- Eu falo do jeito que eu quiser!

- Nem saco a senhora tem pra ficar falando assim sabia?

- Ai ai ai... E nesse mundo que a gente vive se eu quiser ter um saco, eu terei menina! Vou naqueles cirurgiões plásticos e coloco um saco! Além do que... Eu tenho muito mais culhões mesmo que os homens de hoje em dia!

Josiane nem mais dava ouvido pra avó e continuou a chorar.

- Que foi Josiane? Pra quem esse chororô?

- Já disse que não é nada!

- Menina da sua idade nesse chororô só tem uma causa. É homem! Tá chorando pelos seus machos né?

- Credo vó... Meus machos! Como se eu fosse assim...

- Pois devia ser! Se fosse não estava chorando, estava era fazendo eles chorar! Agora desembucha logo de uma vez que já perdi a paciência. Não aguento mais esses fungados...

- É que o Paulinho... Ele me largou... Me deixou por outra!

E falando isso desabou um choro intenso e abraçou a avó. Dona Isaura deu um empurrão na moça. E mete lhe dois cascudos fortes na cabeça.

- Por que está me batendo?

E dando mais um forte cascudo na jovem Dona Isaura respondeu.

- Pra você ter motivos pra chorar de verdade filha da mãe. Nem na minha época que as mulheres choravam por homem eu chorava. Acorda pra vida desgraçada! Eu na sua idade, com sua beleza, nunca ia chorar por homem...

- Por isso mesmo que eu choro, não sou a senhora... Sou uma mulher que sofre de amor.

- Mulher que sofre uma ova! Você é uma paçoca que se desmancha por qualquer coisa. Uma mulher de verdade não se esfarela igual você. Mulher tem que lutar, tem atitudes, sua infeliz! Cria tipo... Paçoca!

- Mas vó...

- Vai caçar uns machos pra se divertir... Paçoca!

Dona Isaura sem um pingo mais de paciência voltou pra cozinha e Josiane... Bom, Josiane acabou ganhando o apelido de Paçoca.