"Aqui somos todos iguais"

Sempre tive uma tremenda atração por cemitérios. Talvez porque seja um lugar que as pessoas pouco visitam, talvez pelos mistérios que a morte tem, e quem sabe talvez pelas histórias de terror que são contadas a cerca deles... Ou talvez por simplesmente minha mãe não me levar lá desde bebê, já que não são lugares adequados para crianças, a menos que alguma criança morra e seja "obrigada" a ir para lá, ou que algum parente bem próximo faleça e a criança seja levada para prestar sua última homenagem. Fique claro, que é para onde, no fim, a maioria de nós irá.

Uma vez li em um cemitério em Niterói isso "Aqui somos todos iguais", e por mais estranho que possa parecer eu fiquei boa parte do velório refletindo sobre a tal frase. Quando a morte nos surpreende, aparece próxima, sentimos que não somos nada. Na verdade, a morte nos faz ver o que é que importa de verdade, e que tudo se baseia em ser feliz durante a vida e fazer que nos cerca feliz também... Não levamos nada dessa vida. Por isso, o tal carpem diem, o aproveitar a vida, mas devemos aproveitá-la a nossa maneira, do melhor jeito possível.

A representação mais clara da morte, é para mim, o cemitério. Lá se torna evidente, se torna importante morrer. Talvez pela crença de vida eterna, de pós-morte, da possibilidade de não haver fim. Talvez viver seja simplesmente importante. Todos vivos são dignos da morte.

"A vida é sempre uma missão, a morte é uma ilusão." Talvez não haja morte se passarmos nossos conhecimentos aos filhos e a quem nos cerca, porque através dele nos mantemos vivos dentro dessas pessoas. Quando escrevemos algo estamos deixando uma mensagem que hoje é lida de uma forma, amanhã, talvez, será lida de outra. Também não morreríamos. Veja os grandes clássicos, tantos autores vivos, tantas experiências, tantas não-morte. Pessoas que se eternizaram entre o mundo dos vivos, mesmo não estando entre nós.

Hoje, encontrei um cemitério, o vi de longe. Cemitérios não deviam ser lugares tão ignorados. Todos os cemitérios sempre me deixam com vontade de escrever sobre eles e para eles. Então, que essa crônica, seja para todos os cemitérios. Todos visitados, todos inimaginados por mim. Mas também, seja a todos os mortos, a todos assassinados, a decapitados durante a idade média, a todos aqueles que morreram dormindo, enfim, a humanidade já que se foi. Essa tal humanidade, que muitas vezes se esquece de ser humana.

Júlia Farolfi
Enviado por Júlia Farolfi em 06/05/2014
Código do texto: T4796272
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